Sobre Ahmadinejad

Fiquei de voltar aqui ainda ontem, mas não deu. O dia foi péssimo, e culminou com o “bolo” que o presidente Ahmadinejad deu em mais de 500 estudantes no IESB…

Como mudar Ahmadinejad? Pretendo aqui apresentar rapidamente duas formas distintas, tentando contribuir para o surgimento de uma visão mais integradora do que desintegradora a respeito das ações junto ao presidente do Irã.

A primeira forma diz respeito ao elemento democrático: não há democracia se não houver vozes falando. Talvez possa parecer duro isso, mas acredito ser necessário “deixar o homem falar”. Concordo com a frase que classicamente associada a Voltaire – ainda que não tenha sido ele a pronunciá-la: “posso não concordar com nada do que dizes, mas defenderei até a morte seu direito de dizer o que pensas”. Meu posicionamento vem de uma questão de princípios, e que para mim me parece muito simples: se o impedimos de falar, estaremos sendo tão autoritários quanto ele é com seu povo. Virão aqueles que dirão “mas não podemos deixar que ele fale que o Holocausto não aconteceu”, ou ainda “como podemos dar voz a ideias tão repugnantes?”. É verdade, são ideias absurdas, esdrúxulas, inconsequentes, mas são ideias, e todos precisam falar. Se vamos “vencê-lo”, que seja pela nossa (= ocidental) moral: que nossos princípios se apresentem como mais sólidos, mais fortes do que os dele, e que convençamos pelo diálogo, não pela imposição, pois com a imposição apenas nos igualaríamos a ele.

A segunda forma diz respeito ao elemento ético, e está diretamente relacionada à ideia de democracia. Quando defendo a possibilidade de uso da voz por parte de Ahmadinejad, não quero dizer que concordo com o que ele faz: o estado deve ser ético. Já dizia Max Weber que uma das características do estado moderno é se fundamentar naquilo que ele chamou de “ética da responsabilidade”, ou seja, na ideia de que não basta a tomada de decisão; é fundamental se considerar os resultados de tal tomada de decisão. Mais que isso: no mundo em que vivemos, toda tomada de decisão por parte dos estados deve levar em consideração o princípio da dignidade humana, tão bem exposto por Hannah Arendt, dentre outros pensadores contemporâneos. Assim retorno à ideia apresentada no parágrafo anterior: a “vitória” deve vir não por meio da força física, por meio da força bruta, mas sim por meio da força moral e da força ética que apenas um discurso verdadeiramente democrático e fundamentado no princípio universal da dignidade da pessoa humana pode ter.

É claro que o raciocínio desenvolvido aqui é apenas inicial: escrevo assim neste momento devido ao avançado da hora, com o consequente sono. Mas acredito que, em linhas gerais, estes são os princípios que deveriam ser utilizados pelos países no trato com o Irã: mostrar o que é a democracia e mostrar que a “nossa” democracia, ou seja, a democracia ocidental, não se fundamenta em imposições, não se fundamenta em manipulações (espera-se), não se fundamenta na força bruta: é necessário deixar claro que, acima de qualquer vontade individual canalizada para o estado está a preservação da vida do indivíduo, de sua integridade – tanto física quanto intelectual. É pelo exemplo que devemos tentar conquistar Ahmadinejad. É isto que garantirá a “vitória” sobre aqueles que não querem seguir o caminho da democracia e da convivência pacífica entre os povos.

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