Bem vindo, Delúbio!

De duas, uma. Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, não deveria ter sido expulso do partido depois que estourou o escândalo do mensalão. Não foi o único culpado. De resto, como diz Lula convicto, o mensalão jamais existiu.

Ou então: Delúbio deveria ter sido expulso, sim. Sua volta ao PT só se justificaria se a Justiça o declarasse inocente.

Delúbio é um dos 38 mensaleiros denunciados pela Procuradoria Geral da República por formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, corrupção e evasão de divisas. O Supremo Tribunal Federal acatou a denúncia que fala de uma “organização criminosa” empenhada em se apoderar de parte do aparelho do Estado.

Ocorre que Delúbio imagina ser candidato a vereador no próximo ano em Goiânia e a deputado federal em 2014. E para isso precisa filiar-se a um partido. Que partido de peso estaria disposto a abrigá-lo?

O PT. Foi nele, sob as bençãos de Lula, que o simplório, mas esperto Delúbio, construiu sua trajetória política.

Lula e Delúbio são mais ligados do que Lula e o ex-ministro José Dirceu, por exemplo. Quem escondia dos fotógrafos o cigarro fumado por Lula? Delúbio, o serviçal.

Mais de uma vez, Delúbio e Lula saíram juntos do Palácio do Planalto no mesmo carro. Uma vez, pelo menos, Delúbio foi hóspede de Lula na Granja do Torto.

O que disse a senadora Marta Suplicy (SP) sobre a volta de Delúbio ao PT, consumada na última sexta-feira, é mais ou menos o que pensa a maioria dos seus colegas de partido. Marta: “A volta de Delúbio é uma questão ainda muito mal compreendida pela sociedade, de difícil assimilação.”

De difícil assimilação, é. Mal compreendida, não.

Se Delúbio foi um dos cérebros do mensalão; se a Procuradoria Geral da República classificou o mensalão de crime; se ele figura em processo na condição de réu; e se o próprio PT preferiu expulsá-lo, a sociedade entende com razão que Delúbio não deveria ter voltado ao partido. O processo do mensalão chegará ao fim no próximo ano.

Por que não esperar a decisão do Supremo? Porque para se candidatar qualquer pessoa é obrigada a estar filiada a um partido no mínimo um ano antes do dia da eleição. Ou Delúbio se filiaria até outubro deste ano ou daria adeus às chances de se eleger vereador em 2012. De todo modo, a sua não será uma eleição tão simples.

Delúbio foi condenado pelo Tribunal de Justiça de Goiás a devolver R$ 164 mil desviados por meio de documentos falsos que o davam como professor ativo no ensino público. E teve seus direitos políticos suspensos por oito anos. Sua candidatura deverá esbarrar na Lei da Ficha Limpa – salvo se instância superior da Justiça lhe for generosa.

O deputado Ricardo Bezoini (SP), ex-presidente do PT, valeu-se de um argumento falacioso em defesa da reintegração de Delúbio: “Até os banidos do regime militar voltaram.”

Comparar a situação dos banidos com a de Delúbio é uma agressão à inteligência. É também um deboche, um escárnio, um acinte.

Os banidos foram vítimas de uma ditadura que censurou a imprensa, cassou políticos, aposentou juízes, prendeu, torturou e matou desafetos. Enfraquecida, revogou o banimento.

Delúbio não foi vítima de nada e nem de ninguém – a não ser de sua própria conduta.

“Ele já pagou”, disse o deputado Cândido Vaccarezza, líder do governo.

Delúbio pagou pelo o quê? Pelo mensalão que o PT prefere chamar de Caixa 2?

Caixa 2 e mensalão são crimes. O PT puniu Delúbio só para dar uma satisfação à sociedade. Assim como fez com José Dirceu, demitido da Casa Civil da presidência da República e depois cassado como deputado federal.

Uma vez que Lula sobreviveu ao escândalo, se reelegeu e elegeu Dilma, o PT concluiu que chegara a hora de premiar Delúbio, o militante que não entregou ninguém. Que pagou sozinho por um crime coletivo.

Seja bem-vindo, pois, companheiro! A casa é sua! Nada mudou desde que você foi obrigado a deixá-la.

(Original aqui.)

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