Odeio-te, meu amor

Dá-se como certo que José Serra disputará este ano a prefeitura de São Paulo, embora somente hoje ele deva formalizar seu desejo.

Desde já, quer-se dar também como certo que ele renunciou em definitivo à ideia de ser candidato a presidente da República pela terceira vez. Rendeu-se – e por que não? – à tese do “candidato óbvio”, Aécio Neves.

Até outro dia, Serra dizia acreditar em suas chances de enfrentar Dilma em 2014, derrotando-a talvez. E dizia não acreditar que Aécio pudesse fazê-lo. Considerava-o um candidato fraco, sem disposição para travar combates, e vulnerável a dossiês que costumam circular durante campanhas eleitorais.

De repente, um anjo desceu do céu, cochichou no ouvido de Serra e ele mudou de opinião – quanto ao seu e ao futuro de Aécio. Acredite quem quiser…

Há muitas pedras no meio do caminho de Serra em direção à prefeitura. Uma delas: sua renúncia ao cargo de prefeito em 2006 para concorrer ao governo de São Paulo.

Os desafetos de Serra haviam avisado com antecedência: não votem nele. Se votarem e ele for eleito, largará o mandato no meio para tentar se eleger governador. Serra respondeu que jamais procederia assim.

E para mostrar que falava sério, provocado por um jornal, pôs por escrito a promessa de cumprir até o fim o mandato de prefeito.

Vexame! Que será relembrado à exaustão na próxima campanha. O antídoto ao vexame começou a ser aplicado no último sábado por Gilberto Kassab (PSD), o vice que completou o mandato de Serra e se elegeu prefeito depois.

Kassab falou: “Ele quer ser prefeito de São Paulo. E abandonou essa opção (a de concorrer à presidência)”.

Quem já viu algum político abdicar da opção de reunir mais poder? Assim como Aécio não suou a camisa para eleger Serra presidente em 2002 e em 2010, Serra também não suará a sua se por acaso Aécio for candidato a presidente daqui a dois anos.

Mas o tempo costuma aprontar surpresas. E se Aécio não for candidato?

Anastasia, ex-vice de Aécio, eleito por ele governador de Minas Gerais, não poderá ser candidato a novo mandato em 2014. Abre-se espaço para o atual vice, Alberto Pinto Coelho (PP), quatro vezes deputado estadual. Só que a eventual eleição dele não será um passeio. É possível então que Aécio se veja compelido a voltar ao governo. Aí…

Aí chega de tanta especulação! De concreto: entre se limitar a fazer política nas redes sociais (blog, twitter, facebook) ou passar a fazê-la a partir da prefeitura de São Paulo, Serra escolheu o certo.

Caso se eleja provará do gosto saboroso de ter batido Lula, que impôs ao PT a candidatura de Fernando Haddad, ex-ministro da Educação.

Caso perca… Bem, dirá que nunca faltou ao partido nas horas mais difíceis, sempre que o partido precisou dele. É verdade!

Nem por isso será uma verdade menos amarga.

Desejará mais tarde ser candidato a deputado federal como foi em 1986 ao dar início à sua carreira política? Ou viverá o resto da vida como professor e economista?

Serra tem a ganhar e a perder ao ambicionar a prefeitura de São Paulo pela quarta vez. Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo, só tem a ganhar com a ambição de Serra.

O mundo gira e a Lusitana roda. Há quatro anos foi Alckmin que dependeu de Serra para se eleger prefeito da capital.

Agora é o contrário. Se Alckmin não jogar pesado para eleger Serra, ele não se elegerá – como Alckmin não se elegeu quando Serra, governador, preferiu a companhia de Kassab. Ali, Serra e Alckmin se tornaram mais do que desafetos. O que um dizia do outro era impublicável.

Não fizeram as pazes. Estão juntos por conveniência.

Se Serra recusasse a candidatura a prefeito, Alckmin ganharia debitando na conta dele a derrota de qualquer outro nome do PSDB.

Se Serra se eleger, Alckmin ganhará. Candidato à reeleição, será ajudado pelas máquinas do governo e da prefeitura.

Se Serra perder… Bem, Alckmin celebrará em silêncio.

(Original aqui.)

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