A Renascença Florentina

Publiquei anteriormente um texto falando sobre Maquiavel e sua obra “O príncipe”. Algumas pessoas me pediram mais informações para entender o texto, e resolvi postar aqui um pequeno resumo do contexto no qual Maquiavel viveu. Entendendo-se o contexto histórico no qual ele viveu, fica mais fácil entender o por quê de ele ter escrito o que escreveu.

Maquiavel é um típico representante do movimento chamado de “Renascença”. A Renascença — ou Renascimento, ou ainda Humanismo — foi um movimento cultural que ocorreu entre os séculos XIII e XVI. Seu “objetivo” era reviver a Antiguidade clássica, aplicando suas respectivas “teorias” à época.

Um aspecto importante a se destacar é que, durante a Renascença, houve um rompimento do monopólio cultural da Igreja, ou seja, a cultura passa a ser difundida entre todos, não mais ficando restrita aos membros da Igreja. Além disso, há o surgimento de uma nova classe, a burguesia, que quer a separação entre Igreja e estado, pois esta mesma burguesia quer controlar o estado em seu próprio benefício.

São características intrínsecas à Renascença: o individualismo, o racionalismo, o hedonismo, o repúdio aos costumes medievais. Há a criação de um ideal humanista, dando ênfase ao antropocentrismo. Vale ainda destacar que o movimento inicia-se na Itália, pois lá há as melhores condições — os italianos já tinham contato com outras civilizações através do comércio.

No início da Renascença ainda não havia o conceito de estado-nação. Para que isto acontecesse é incentivado o espírito de civismo, dando como subsídio para tal civismo a ameaça externa — os florentinos deveriam se unir para lutar contra Milão. Isto significa dizer que o cidadão foi se tornando cada vez mais consciente em relação à sociedade em que vive.

Há o início das relações mercantis, assim como a necessidade de manter estas rotas. Surge o chamado “civismo militar”: o objetivo do soldado é conseguir muitas glórias militares. A liberdade é defendida como um grande ideal: para evitar a submissão a outros povos, os habitantes se uniam contra as ameaças externas. Surgem também os conceitos de moral e virtude, em face da centralização política.

O desafio do governante é melhorar o “ânimo” dos cidadãos, e não aperfeiçoar a máquina administrativa; assim, o Humanismo defende os princípios do liberalismo. O grupo político é o “chefe” porque possui virtude, e tal virtude é a retórica: a população precisa confiar no seu líder, e este deve ser convincente.

Com a Renascença, surge um conflito interno nos homens: antes Deus era o centro, e agora o homem é responsável pelo seu próprio destino; o homem pode mudar tudo. Desta forma, cria-se a imagem de que “o trabalho dignifica o homem”, e é através do trabalho, somado à capacidade humana, que o homem pode mudar o mundo ao seu redor. Deus pode até ter dado a capacidade de pensar e agir ao homem, mas é este homem que trabalha, que age no mundo terreno e que o modifica. O homem é o fator de modificação do mundo; é o centro do mundo, e cuida da sua própria sorte.

Há uma constante busca do novo através do antigo, e é por isto que os humanistas “lutam” contra os escolásticos, que viviam confinados a capelas, mosteiros e castelos. São os humanistas os criadores do termo “Idade das Trevas”.

O período renascentista em Florença é dividido em duas partes: a primeira é dominada pelo republicanismo, e a segunda pela tirania, caracterizada pela invasão da França por parte da Itália.

Maquiavel insere-se no pensamento humanista. O que o torna singular é o fato da realidade da sua obra. Por exemplo, se o príncipe precisa manter seu poder, ele deve fazer o que for necessário, seja algo bom ou ruim, usando a violência. Maquiavel diz também que o importante é parecer virtuoso, e não necessariamente sê-lo. As utilizações de aspectos negativas são necessárias, às vezes, para se manter no poder — se for preciso usar o mal para fazer o bem, que se use.

Florença toma como modelo para seu esquema político a cidade de Veneza. Esta surgiu de inspiração para todas as outras províncias — que se utilizavam o seu modelo republicano. A cidade de Veneza realizava eleições constantes, buscando a maximização do bem comum.

Outro problema para os florentinos era a presença da escolástica na cidade. Os escolásticos buscam explicação divina para as qualidades de Veneza: os cidadãos seguiam os ensinamentos de Deus, e por isto a cidade era próspera — na visão da Igreja Católica. Em Florença, os republicanos eram reprimidos pelos Médici, mas com o sucesso da república em Veneza, Florença acabou adotando este regime.

Os florentinos defendiam a liberdade como base para a vida política. Até Maquiavel passa a defender a república — após perder a esperança de conseguir um cargo na corte dos Médici. Segundo ele, a república torna o povo mais feliz que o principado. Isto é importante porque a visão que se tem do rei é de uma pessoa preocupada com glórias pessoais, e não com o bem comum. Maquiavel vai, por fim, descrever os aspectos que podem acabar com a liberdade dos cidadãos: ditaduras, corrupção, a fé cristã, entre outros.

3 comentários em “A Renascença Florentina”

  1. Olá professor.da mesma forma como fez com Maquiável,poderia contextualizar,para nós,o momento em que Jean-Jacques Rousseau escreveu a obra: O Contrato Social?.Obrigada!

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