O Homem-Aranha e as minorias


Antes de falar sobre o Homem-Aranha e as minorias, vamos deixar duas coisas claras: 1) Vou me referir apenas ao Universo Cinematográfico, não aos quadrinhos; 2) Sim, prefiro a Marvel. Tanto no cinema quanto nos quadrinhos. Mas principalmente no cinema.


Li hoje pela manhã um tuíte que falava sobre a “dificuldade” que Peter Parker tem na vida: “mora em NY, branco, lindo, poderoso e super inteligente”. E o autor termina com uma pérola: “deve ser uma m****”.

Vou deixar de lado um erro grosseiro que o autor cometeu — confundir Peter Parker com o Homem-Aranha. “Ah, é a mesma pessoa, para com isso…”, dirão alguns. Não, eu não paro. Porque se é pra “analisar” um super-herói — e utilizá-lo para tentar passar alguma mensagem (porque neste caso acho que o autor não conseguiu — queria apenas algumas curtidas a mais em sua conta) —, que seja bem feito. Um é um, o outro é outro.

E, seguindo a premissa 1 que estabeleci acima, não vou falar do Miles Morales.

Deixando isso (tudo) de lado, será que a “crítica” se sustenta? Sinceramente, acho que não. E por dois motivos.



Primeiro pelo fato de que o que o autor faz com seu texto é apenas reforçar um estereótipo. Ou seja, é pressupor que todo mundo que mora em Nova Iorque, é branco, bonito, poderoso e super inteligente tem uma vida boa. Como se todos que morassem em Nova Iorque tivessem uma vida boa. Como se todos que fossem brancos tivessem uma vida boa. Como se todos que fossem bonitos tivessem uma vida boa. Como todos que fossem poderosos tivessem uma vida boa. E pra te cansar, como se todos que fossem super inteligentes tivessem uma vida boa.

Ou seja: em vez de usar a premissa para efetivamente fazer algum tipo de crítica social, cai no senso comum de supor (e deixar subentendido, talvez pela falta de coragem de dizer explicitamente) que o branco é dominador e o negro é o explorado, que o bonito se dá bem e que o feito se ferra, que o morador de Nova Iorque é melhor do que o morador de qualquer outra cidade do mundo.

Não, eu não estou defendendo o elitismo atual. E também não estou renegando toda a carga histórica de opressão que pobres, negros e feios sofreram (e ainda sofrem).

Estou apenas dizendo que a coisa não é maniqueísta. Não é “8 ou 80”. Não é um ou outro. Há muito mais camadas sutis e que se interpenetram entre os dois extremos. E isto, a meu ver, inviabiliza o estereótipo que — repito — é reforçado, em vez de combatido, pelo autor do tuíte.



Em segundo lugar, se há algo que a Marvel fez e faz é estimular a diversidade. O autor talvez tenha se esquecido (ou desconheça mesmo) que a Marvel, inserida no contexto político norte-americano, é claramente democrata. Ou seja, e novamente levando em consideração aquele contexto político específico, a Marvel é progressista. Busca a diversidade em seus quadrinhos e, até certo ponto, no cinema. Basta ver as incontáveis mudanças feitas em tempos recentes, com a inclusão de inúmeros personagens assumidamente gays. Ou de mulheres. Negras. E por aí vai.

E o Homem-Aranha e as minorias? Pois é. Ele — Peter Parker, e até mesmo o Homem-Aranha — faz parte de uma minoria. A minoria que é pobre em Nova Iorque. Ou, se não é pobre, tem dificuldades financeiras. Na história clássica Peter Parker é um fotógrafo freelancer que sofre pra pagar as contas no fim do mês e sustentar a tia (ou a auxiliá-la, depende da versão). Sofre bullying no colégio. É um gênio, mas nem sempre se dá bem na escola por “exercer as funções” de Homem-Aranha. Mora no Queens em uma casa simples e sem nenhum luxo. Ou seja: “mora em Nova Iorque, é branco, bonito, poderoso e super inteligente”, mas não necessariamente tem uma vida boa.

Não vi o filme ainda, então não sei como irão retratá-lo. Mas pelo que já vi sobre o filme na internet, a essência do Peter Parker permanece. Ou seja, continuará representando um tipo de minoria que, se o autor acredita que não existe no Brasil, é bem comum nos Estados Unidos.


E você, o que acha disso tudo? O que pensa sobre o Homem-Aranha e as minorias? Ou sobre a representação de qualquer outro super-herói no cinema? Deixe abaixo seus comentários ou entre em contato para debatermos.

Um abraço a todos e até a próxima!

Prof. Matheus Passos

2 comentários em “O Homem-Aranha e as minorias”

Deixe um comentário