Mais uma vez o presidente Lula se fundamenta no refrão “faça o que eu digo, não o que eu faço” para sustentar seus argumentos. Hoje o presidente esteve no Rio de Janeiro inaugurando as obras de recuperação da zona portuária daquela cidade, e na ocasião afirmou, com outras palavras, que vale mais a pena “dar dinheiro para pobre do que diminuir a carga tributária dos ricos”.
O argumento do presidente é simples, mas tem sentido. Pelo G1, de acordo com o presidente, “em vez de a gente ficar desonerando (…), é melhor pegar esse dinheiro e estar para os pobres. Cada real na mão do pobre volta automaticamente para o comércio, para o consumo e move a economia. Esse dinheiro não vai para bancos, para derivativos, vai para o comércio”, disse Lula. Já segundo o UOL, Lula “lembrou que, desde que assumiu o governo, as desonerações sobre produtos como máquinas, automóveis e eletrodomésticos, entre outros, somam R$ 100 bilhões. ‘Imaginem 100 bilhões na mão do povo’, declarou.”
Mas há falhas na fala do presidente. Se o ideal é “dar dinheiro aos pobres”, por que então o presidente desonerou tanto ultimamente? Ah sim, é para evitar que a crise econômica se espalhasse. Mas a crise não era só uma “marolinha”?
Outro problema: dar dinheiro nas mãos dos pobres, por mais moralmente correta (?) que tal atitude possa ser, leva a um problema ainda maior: a inflação. Todos sabemos que mais dinheiro nas mãos da sociedade leva à inflação, e tenho certeza de que Lula não quer ser visto como o presidente que deixou a inflação voltar ao país. Sendo assim, “faça o que eu digo, mas não o que faço”: fale que é bom dar dinheiro aos pobres, critique os banqueiros e deixe a mídia fazer o resto – divulgar a informação, que será “devidamente” absorvida pelos eleitores, enquanto, nos bastidores, afaga-se os mesmos banqueiros que são publicamente criticados.
Juntem-se a isso mais dois fatos. Primeiro, a campanha eleitoral antecipada. Segundo o G1: “Citando o exemplo dos R$ 40 bilhões em arrecadação que o governo perdeu com o fim da Contribuição Previdenciária sobre Movimentação Financeira (CPMF), Lula disse: ‘Perdemos R$ 40 bilhões (que seriam destinados) para a saúde e não vi ninguém reduzir seus preços. Diziam: se deixarmos os R$ 40 bilhões (da CPMF para a) saúde na mão do Lula, ele vai ganhar a eleição. Ganhei e vamos ganhar de novo’, frisou o presidente em seu discurso.” Lula deixa claro que está sim fazendo campanha antecipada – até mesmo porque a ministra Dilma o acompanha sempre que possível, objetivando-se apresentar como “mãe do PAC” junto à massa de eleitores.
O segundo problema diz respeito à defesa feita pelo presidente brasileiro em relação à atual carga tributária. Novamente, segundo o UOL, “Lula também defendeu o nível da carga tributária brasileira como mecanismo de política social. ‘A carga tributária da América Central é 9% ou 10%. Um país com 9% ou 10% de carga não tem Estado, porque o Estado não pode cuidar de nada’, afirmou. No Brasil, a carga é de 38,45% do Produto Interno Bruto (PIB).” O argumento do presidente é válido, mas a forma como o mesmo é feito, novamente, é falha, e por dois motivos: 1) Reino Unido, Nova Zelândia, Canadá, Suíça, Japão e EUA, para ficar apenas com alguns exemplos, têm carga tributária menor que o Brasil – e nem por isso não são “estados”, como diria o presidente. Ou alguém acha que tais Estados “não cuidam de nada” a respeito de suas populações? 2) O problema do Brasil não é a carga tributária em si, mas sim a forma como o dinheiro arrecadado é utilizado. A Suécia arrecada quase duas vezes mais que o Brasil, mas lá os recursos são usados de maneira muito menos errônea que aqui…
Enquanto a burocracia brasileira não melhora, o presidente Lula continua com suas declarações que agradam aos ouvidos dos incautos… Que assim o são porque não se preocupam nem um pouco com a necessidade de participar politicamente todos os dias. Pois erram aqueles que acham que “participação política” se resume a votar: sem conhecimento de causa, sem envolvimento nos assuntos do país – nem que seja assistindo a e analisando um jornal manipulado e manipulador como o “Nacional”, da Rede Globo –, em resumo – sem informação, qualquer participação política fundamentada apenas no pensamento de que “tenho direito a votar e ser votado, e faço isso de maneira livre” é inútil.