Ontem o presidente Lula criticou mais uma vez a CPI da Petrobras. Ao ser ironicamente questionado se a CPI terminaria em “pizza temperada com pré-sal”, o presidente afirmou que os senadores são bons “pizzaiolos”. Também ontem, um pouco antes, Lula disse que no Senado “só tem gente experiente” e que todos os senadores eleitos são espertos — “o bobo é quem não foi eleito”. Tais declarações fazem com que o presidente se complique ainda mais a respeito de tais assuntos.
Senão vejamos:
- “Espertos são os eleitos”. Espertos ou espertalhões? Claro que o presidente sempre dirá que está sendo bonzinho em suas afirmações, mas é claro que podemos depreender que há também uma crítica velada aos senadores. “Espertos” são aqueles senadores que resolvem abrir mão de seus ideais para engrossar a base do governo. “Espertos” são aqueles senadores que tentam se atrelar à própria pessoa que os critica — o presidente Lula. E se os senadores que são eleitos são “espertos”, um presidente eleito — duas vezes — é o que?
- “Os senadores sabem fazer boas pizzas”, foi o que o presidente disse. Agora fica a dúvida: quem é o líder da CPI da Petrobras? Um senador da base aliada — escolhido diretamente por Lula. Quem é o relator da CPI da Petrobras? Um senador da base aliada — escolhido diretamente por Lula. E aí é uma questão de lógica: se os senadores sabem fazer boas pizzas, quem é o “pizzaiolo-mor” da política brasileira? Claro, porque os senadores da base aliada agem em consonância com as ordens que vêm de cima — do líder da base aliada no governo, que — coincidência! — é o presidente Lula. Então, não há dúvidas que, além de ótimas caipirinhas, Lula deve saber fazer muitas pizzas também.
- Apenas mais uma pergunta, estilo advogado do diabo: por que o medo da CPI? “Quem não deve não teme”, não é o que diz o ditado? Esse papo de “a Petrobras é a maior empresa brasileira” é furada. O fato de uma empresa ser grande a coloca acima de qualquer suspeita em relação a atos ilícitos?
As palavras do presidente Lula mostram que o mesmo, aparentemente, está se sentindo acima do bem e do mal. É claro que seus 70%, 80% — não sei exatamente quanto — de aprovação popular talvez tenham-no feito ir às alturas — Lula é conhecido pela sua vaidade em ter apoio do “povo”. Mas sua popularidade, bem como os acertos que seu governo teve e que trouxeram inúmeros benefícios ao país não lhe dão o direito de ser tão prepotente a ponto de querer se colocar acima do estado brasileiro, interferindo com constância — como tem feito — no Congresso Nacional. Mais ainda, sua popularidade e aceitação não lhe dão o direito de acreditar que possa, sozinho, definir os rumos do país. A não ser, é claro, que o presidente deseje instaurar um despotismo democrático, situação para a qual, infelizmente, caminhamos a passos largos.