O que mais se ouve, pelo menos aqui no Distrito Federal, é a defesa da ideia de que “o estado deve…”. Esta é a frase padrão de muita gente que conheço: “o estado deve dar educação”, “o estado deve dar saúde”, “é dever do estado garantir o bem-estar social”, e por aí vai. E os apelos de que “o estado deve…” atingem seu ápice quando se trata de concursos públicos: como esta é a profissão padrão por aqui, todo mundo (generalizando, é claro) fica sempre à espreita do novo concurso. Talvez a profissão de “concurseiro” seja a maior no DF.
Há também um outro “o estado deve…”: “o estado deve cobrar menos impostos”. E tal clamor é certíssimo: o estado brasileiro cobra quase 40% do PIB em impostos, e isso é extremamente excessivo para qualquer economia que queira se tornar competitiva. Sabe-se que a carga tributária no Brasil é muito alta e, pior ainda, sabe-se que o estado gasta mal aquilo que arrecada. Isto é fato.
E é aí que surge a cuiosidade no pensamento brasileiro, ou pelo menos no do brasiliense: como o estado vai reduzir impostos e, ao mesmo tempo, aumentar a máquina administrativa? Como pode o estado gastar mais arrecadando menos?
Claro que sabemos que o estado gasta mal, como já informado. Claro que o estado poderia economizar se gastasse melhor. Claro é também que o estado gastaria menos se houvesse menos corrupção. Tudo isso é fato, e concordo plenamente com isso. Mas o que não concordo é com a atitude submissa da população brasileira, que coloca a responsabilidade pelo seu bem-estar no estado e fica parada esperando que as coisas caiam do céu.
É a essa curiosidade que me refiro: o povo brasileiro é acomodado. Fica esperando o estado fazer tudo, ao mesmo tempo em que reclama daquilo que o estado faz. Comparemos com os Estados Unidos: durante o ano passado, no auge da crise, diversas pessoas que perderam seu emprego recusaram o auxílio estatal por vergonha. Vergonha de assumir que é incapaz e que precisa de auxílio do estado. Preferiram morar em barracas (próprias) instaladas em parques a receber auxílio do estado.
E aqui no Brasil? Aqui o povo só reclama que o estado não faz e deveria fazer — e depois reclama da alta do imposto. Aqui todo mundo (generalizando, mais uma vez) fica na esperança de conseguir uma “boquinha” e “se dar bem”. Aqui todo mundo quer ganhar sem trabalhar — quem não adora um feriado? Aqui todos ficam parados esperando o estado agir, abrindo mão da própria prerrogativa de cidadão ativo, transformando-se em cidadão passivo. E o estado “adora”, afinal de contas ocupa os espaços não preenchidos pela sociedade civil, transformando-se no “paizão bonzinho” que dá tudo… Mas nada é de graça, dá em troca de alguma coisa — em troca da passividade do cidadão brasileiro, que assiste a tudo e nada faz. Infelizmente.