Prezados leitores,
Coloco abaixo a entrevista concedida por Bruno Kazuhiro, editor do blog Perspectiva Política, para o qual escrevo colunas em todos os sábados. Sugiro a leitura por completa, pois a mesma é muito interessante.
FERNANDA DREIER: Que participação político-social você procura exercer na sua comunidade, ou mesmo em nível nacional ou internacional?
BRUNO KAZUHIRO: Participo politicamente através de diversas maneiras. Exercer meu civismo e minha cidadania, procurando sempre incentivar os outros a fazer o mesmo já é uma forma, subestimada diga-se de passagem, de fazer política. Além disso, sou administrador, editor e autor do blog Perspectiva Política, que já adquiriu o seu destaque na blogosfera política nacional, ultrapassando o milhar de visitantes por dia. Coordeno ainda o GECAP, Grupo de Estudos sobre Cidadania e Aprendizado Político, um coletivo que se reúne para debater a política do Rio de Janeiro, onde moro, formado por jovens e que pretende realizar, em breve, palestras de cunho conscientizador no que diz respeito à política focando o público jovem.
FD: Como você distingue Esquerda e Direita no que diz respeito aos temas:
BK: A princípio, eu gostaria de dizer que não creio mais na distinção estereotipada entre esquerda e direita. Responderei aos tópicos abaixo aproximando os princípios de ambos os lados à realidade que encontramos. Porém, creio que o debate entre esquerda e direita se dá, hoje, dentro do capitalismo, sendo a esquerda, na realidade, a centro-esquerda, e a direita, a centro-direita. Os extremos são, atualmente, caricatos.
a) saúde;
A saúde pública universal é defendida da esquerda até a centro-direita, embora alguns pontos do espectro político aceitem melhor a convivência com o setor privado. A direita mais extremada chega a defender a saúde privada como mais indicada, com desoneração de impostos.
b) educação;
Mesmíssima situação da saúde. Na política, saúde e educação estão sempre próximas no que tange a análise do papel do Estado por cada ideologia.
c) impostos;
A esquerda defende impostos mais altos para que diversos âmbitos sejam controlados pelo Estado. A direita pede desoneração de impostos para que o dinheiro fique com o contribuinte e este o utilize na contratação de serviços privados.
d) reforma agrária;
A esquerda extrema é totalmente a favor e a direita extrema é totalmente contra. Os centristas atuais elencam casos onde é possível e onde não é possível. A centro-esquerda elenca mais casos, por ser defensora da função social da propriedade, enquanto a centro-direita elenca menos casos, por defender mais a propriedade privada.
e) meio ambiente;
A esquerda é mais alarmista quanto ao meio-ambiente. Muitos direitistas mais extremos chegam a dizer que o ambientalismo é o novo marxismo. A direita mais moderada é cética, tendo muitos membros questionando até que ponto o aquecimento global não é um fenômeno natural.
f) economia;
Aqui a distinção é mais fácil: Ideais próximos à intervenção versus ideais próximos ao liberalismo.
g) e liberdades individuais?
A direita, por defender a propriedade privada e o mercado, as defende com mais afinco. A esquerda aceita as colocar em segundo plano se confrontarem o interesse público e o bem comum.
h) (se houver outros temas que lhe interessem, fique à vontade)
Destaco temas como aborto, fetos anencéfalos e liberação das drogas. A esquerda tende a ser mais liberal enquanto a direita tende a ser mais conservadora, o que é curioso se compararmos com as posições econômicas e com o nível de defesa da liberdade individual.
FD: Na sua opinião, qual é a melhor distinção entre Esquerda e Direita encontrada na teoria política?
BK: A melhor distinção, a que melhor explica as diferenças de pensamento, diz respeito à intervenção do Estado na economia. Na minha opinião, o embate entre público e privado explica bem a dicotomia.
FD: Como você relaciona os conceitos Conservadorismo, Progressismo, Radicalismo, Reacionarismo, Esquerda e Direita? As associações mais comuns entre estes conceitos são aceitáveis ou há relativismo?
BK: Há relativismo, com certeza. Principalmente após a queda do muro de Berlin. Como eu já afirmei, o debate sério entre esquerda e direita se dá, hoje, dentro do capitalismo. O radicalismo é caricato e tende a ser rechaçado nas democracias a não ser que as circunstâncias sejam sui generis. O reacionarismo me parece um paradoxo. Ele existe, mas não em todos os sentidos descritos pelo termo. O progressismo e o conservadorismo nunca foram termos caros para mim. O progressismo supõe progresso, o que nem sempre advém dos regimes esquerdistas, e o conservadorismo nos leva a entender que o perfil de um direitista é sempre conservador, o que não é verdade. Por fim, lembro que estas associações feitas podem se equivocar. A classe média brasileira é um caso claro de um grupo que pode muito bem ter membros de esquerda reacionários contra os mais pobres. Além disso, o conservadorismo econômico advém muitas vezes do indivíduo progressista.
FD: Você se declara de centro, um democrata social-liberal, certo? Como este posicionamento reflete na escolha dos seus candidatos?
BK: Infelizmente, a questão ideológica não pode ser a primeira analisada por mim na escolha dos candidatos. Como a prática política nacional está contaminada por fatores como o clientelismo, o assistencialismo, o loteamento de cargos, etc, primeiramente separo os políticos que são entendidos por mim como praticantes da boa política. Apenas após essa separação é que passo a distinguir ideologicamente. Se por acaso não existirem nomes alinhados com meu pensamento social-liberal honestos, preferirei sempre alguém bem intencionado de outra esfera.
FD: Como você avalia a noção dos cidadãos brasileiros quanto às diferenças entre Esquerda e Direita na política?
BK: Os cidadãos brasileiros, em sua grande maioria, não distinguem. A única coisa que é foco de atenção é o tratamento dos pobres. Quem “gosta” dos pobres e quem “não gosta” deles e trabalha para os “ricos” e os “poderosos”. Diz-se que a direita é menos assistencialista. Por conta disso pode haver uma distinção indireta, mas não ideológica. Curioso é perceber que muitos políticos populistas que advém da religião, portanto com valores conservadores, praticam o assistencialismo e são entendidos, muitas vezes, como mais amantes das “classes baixas” do que os marxistas. Além disso, o PT, atualmente no poder, tem uma história de esquerda, um governo de direita na economia e uma atuação social de centro, o que mostra o quão relativa é a prática, o que confunde ainda mais a noção do brasileiro médio. Talvez em estados com níveis educacionais mais elevados a distinção seja mais bem feita, mas nada de muito embasado.
(Original aqui.)