O governo argentino denunciou nesta segunda-feira que a presidente Cristina Kirchner foi alvo de ameaças de morte enquanto seguia de helicóptero para a Casa Rosada, sede do governo. Segundo Aníbal Fernández, chefe de gabinete da presidente, as ameaças chegaram via rádio na sexta-feira e foram “levadas a sério” pela equipe de segurança de Cristina.
Uma gravação de áudio, exibida nesta segunda pelo canal C5N de televisão, mostra o momento em que a comunicação de rádio entre o piloto do helicóptero e a torre de controle foi cortada por alguém que dizia, “mate ela” e “mate a égua”. Ao fundo, era possível escutar a marcha militar durante vários segundos.
As ameaças foram feitas no mesmo dia de um julgamento histórico de 19 oficiais da época da ditadura militar argentina (1976 – 1983), todos acusados de torturar milhares de presos políticos na Escola Mecânica da Marinha.
Pela coincidência de datas, o governo acredita que partidários da ditadura estejam por trás do ocorrido. Aníbal Fernández, porém, afirmou qua nada pôde ser provado até agora. Por sua parte, o procurador-geral da República, Esteban Righi, já apresentou uma denúncia formal à Justiça para que o caso seja investigado.
(Original aqui.)
COMENTÁRIO:
No que diz respeito a ditaduras, a Argentina — bem como o Chile — deveria ser vista como um modelo para o Brasil porque fez o que os presidentes brasileiros não tiveram coragem: levou a julgamento os militares que cometeram crimes durante o regime militar.
Claro que tal tema sempre levanta questionamentos, seja na Argentina, seja no Brasil. É correto fazer a lei retroagir para acusar pessoas? Afinal de contas, na época tortura não era crime. É viável — especialmente em termos políticos — mexer em um “vespeiro” que são os militares, ainda mais quando consideramos que, em termos históricos, a ditadura foi “ontem”? Cabe ao estado brasileiro atual pagar indenizações — algumas milionárias — àqueles que sofreram diretamente nas mãos dos militares? Apenas algumas questões a título de “incentivo”.
Independentemente das opiniões de cada um, fato é que a Argentina resolveu levar adiante o processo e está punindo os militares que cometeram abusos durante o regime, especialmente abusos vinculados aos Direitos Humanos. É um custo político — simbolizado pela ameaça de morte à atual presidente –, mas que tem forte apoio popular e que foi levado a cabo por todos os governos, e não apenas pelo atual.
O Brasil poderia fazer o mesmo. Claro que adequações teriam de ser feitas — não dá para simplesmente pegar o processo argentino e copiá-lo –, mas seria importante, para a afirmação dos Direitos Humanos previstos na Constituição de 1988, que o governo brasileiro tivesse vontade política de levar tal processo a cabo.