Europa deve agir mais para continuar relevante em Washington, dizem especialistas
(Original aqui.)
A decisão de Obama de não participar do encontro entre UE e EUA, inicialmente previsto para esta semana em Madri, leva a um debate sobre o interesse dos EUA na Europa. Especialistas aconselham Europa a mostrar mais ação.
Quando o presidente Obama decidiu quebrar o ritual transatlântico e não comparecer ao encontro de cúpula europeu-americano marcado para esta semana em Madri, os europeus levaram para o lado pessoal. Um ato esnobe de desprezo dos EUA ou uma provocação rude à Europa foram alguns dos termos mais usados para descrever o ocorrido.
Muito se passou desde que Obama anunciou que não viajaria a Madri há uns dois meses. Quanto ao evento em si, os líderes europeus simplesmente o suspenderam, já que um dos protagonistas não apareceria.
No entanto, o mais importante é que a situação financeira da Grécia piorou dramaticamente e levou os esforços europeus de combate à crise do euro ao topo da agenda internacional. Só que, para muitos, a maneira como a União Europeia (UE) lidou com o colapso grego deixou a desejar.
Segundo diversas fontes, só se chegou a um acordo sobre o empréstimo para a Grécia depois que o presidente Obama pediu pessoalmente aos líderes europeus que agissem. Tal percepção é para muitos – e não só na Europa – mais uma prova do fracasso da UE como um agente global e acentua a ideia de que Washington perdeu a paciência com seu parceiro transatlântico.
Sem tempo para tirar fotos
“Eu acho que a decisão de não comparecer ao encontro foi perfeitamente compreensível”, diz Jolyon Howorth, professor de relações internacionais da Universidade de Yale (EUA), que, no momento, está trabalhando num projeto sobre a política externa da UE na Universidade Livre de Berlim.
Ele acrescenta que os enviados de Obama discutiram o encontro com a presidência europeia da UE. “E ficou claro para eles que a agenda não tinha conteúdo real, que seria igual ao encontro do ano passado em Praga, uma série de oportunidades para se tirar fotos. E isto é a última coisa para qual Obama tem tempo no momento”.
“Eu acho que os europeus têm que amadurecer”, diz Federiga Bindi, especialista em integração europeia da Univesidade de Roma Tor Vergata. Ela acredita que os europeus estejam mais interessados em símbolos que em resultados. E isto pode levar a mal-entendidos e problemas com uma administração americana focada em alcançar soluções acima de tudo.
“Obama se interessa pela Europa no sentido de que ele está interessado em cooperar com a Europa”, aponta Bindi. “Então não se trata de falta de interesse de Obama, mas sim da falta de respostas apropriadas por parte da Europa”.
Os laços transatlânticos ainda são vitais
Andrew Moravcsik, diretor do programa sobre a União Europeia na Universidade de Princeton (EUA), discorda veementemente da afirmação frequente de que as relações transatlânticas vêm se deteriorando há algum tempo e de que esta tendência está crescendo com Obama. Ele argumenta que a percepção pública das relações europeu-americanas é formada por eventos midiáticos como encontros de cúpula, e não pelos fatos que estão nas entrelinhas.
“Um encontro de cúpula é a melhor forma de lidar com países como a China ou a antiga União Soviética”, ele diz. “Governos mais modernos lidam um com o outro da forma como os alemães lidam com seus parceiros na UE, de uma maneira mais burocrática. Eles resolvem problemas juntos. E se você julgar o relacionamento transatlântico pela forma como europeus e americanos resolvem problemas juntos e pela forma como seus líderes conversam imediatamente entre si quando há um problema global, este relacionamento está bastante saudável”.
Moravcsik também discorda de que Obama tenha forçado a Europa a finalmente agir e emprestar dinheiro à Grécia quando conversou com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e com o presidente francês, Nicolas Sarkozy.
“Eu ficaria muito surpreso se a Alemanha ou qualquer outra potência europeia emprestasse dinheiro a um país como a Grécia só porque os americanos pediram. O que é importante é o fato de que os EUA, assim como outros países, têm consciência de que somos interdependentes e de que é importante cuidar de crises financeiras para evitar uma crise econômica mundial como a dos anos 1930”.
Parar de ver fantasmas
Contudo, mesmo se europeus e americanos continuarem a questionar o compromisso um do outro com a aliança transatlântica, isto não é necessariamente negativo.
“Não é uma coisa necessariamente ruim, já que pode permitir uma reflexão mais fria sobre quais são os interesses comuns”, diz Felix Berenskoetter, especialista em relações transatlânticas na Universidade de Londres. “E o foco na capacidade e no desejo de resolver problemas ajuda a construir um bom relacionamento.”
O conselho mais prático para europeus que veem fantasmas no relacionamento com os EUA vem da analista italiana Federiga Bindi: “Os europeus têm que parar de agir como uma mulher recém-casada que quer que o marido ligue toda hora para dar satisfações. Obama está lidando com isso como um adulto e os europeus deveriam fazer o mesmo”.
Autor: Michael Knigge (TM)
Revisão: Rodrigo Rimon