Combinar com os eleitores
Não há ainda informação confiável sobre a repercussão do escândalo da quebra em série de sigilos fiscais na decisão dos eleitores, e ambos os lados da disputa anunciam números favoráveis: para os petistas, se alguma coisa se moveu foi a favor de Dilma, que teria ampliado sua diferença sobre Serra apesar dos pesares. Para os tucanos, os números já indicariam uma queda de Dilma e subida de Serra, restando confirmar se essa é uma tendência que pode levar a eleição ao segundo turno.
Assim como a iniciativa de pedir ao TSE que retirasse do ar a propaganda em que Collor aparece pedindo votos para Dilma demonstra que esse apoio não repercute bem na campanha petista, também a reação do presidente Lula é uma demonstração de que o caso da quebra continuada de sigilos por diversas repartições da Receita pelo país é um assunto potencialmente perigoso para a campanha de Dilma Rousseff.
Disse o presidente, sempre como se estivesse em um palanque eleitoral, e não na posição de líder de um país, que, da mesma forma que “armaram” contra ele em 2006, estão querendo “armar” agora para cima de sua candidata.
A relação entre um caso e outro é sintomática quando feita pelo próprio presidente, e é ruim para a campanha oficial, porque embute a aceitação de que pode acontecer o mesmo agora, com o novo caso dos “aloprados” levando a eleição para o segundo turno.
Também o raciocínio desenvolvido dentro do governo, revelado ontem pelo secretário particular de Lula, o sempre fiel escudeiro Gilberto Carvalho, espelha a fragilidade da defesa diante das evidências.
Para ele, há ligações muito “tênues” entre o PT e as quebras de sigilo, uma ligação que só ficaria evidenciada caso, em vez de “petistas da base”, estivessem envolvidos petistas da direção partidária.
Ora, mais petistas da direção partidária do que os envolvidos no escândalo do mensalão, impossível. O próprio chefe do Gabinete Civil de então, José Dirceu, foi identificado pelo procurador-geral da República como o “chefe da quadrilha” que fora montada dentro do Palácio do Planalto para manipular as bancadas do Congresso Nacional.
Um ano depois, estoura o caso do dossiê contra os candidatos tucanos ao governo de São Paulo, José Serra, e subsidiariamente contra o candidato a presidente da República, Geraldo Alckmin.
Apanhados em flagrante com um punhado de dinheiro vivo dentro de um hotel em São Paulo, os “aloprados” indicaram como agentes da ação criminosa Jorge Lorenzetti, o churrasqueiro pessoal de Lula; Freud Godoy, seu segurança pessoal transformado em assessor especial; e Hamilton Lacerda, na época assessor do gabinete do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e coordenador da sua campanha ao governo estadual.
Mais ligados ao comando do partido e ao Palácio do Planalto do que isso, também é impossível.
Mas até agora nada aconteceu com nenhum dos envolvidos. Os que foram denunciados no Supremo Tribunal Federal pelo mensalão continuam atuando de uma maneira ou de outra no PT, e os “aloprados” vão levando sua vidinha, sempre ligados ao partido e ao governo.
Como um dos argumentos mais utilizados pelos governistas para tentar desqualificar as denúncias é que não interessava à campanha de Dilma quebrar sigilos fiscais quando a eleição está praticamente vencida no primeiro turno, nunca é demais lembrar que o presidente Lula chamou de “aloprados” seus amigos e correligionários que participaram daquela operação em 2006 justamente porque não havia razão para tumultuar uma eleição que caminhava para ser resolvida no primeiro turno.
O mesmo ocorreu nesse caso atual, quando nem mesmo as pesquisas mostrando a candidata oficial abrindo uma dianteira foram suficientes para conter o ímpeto dos “neo-aloprados”. Além do fato de que as primeiras quebras ocorreram ano passado, quando as pesquisas indicavam uma provável vitória de Serra.
Mas não é apenas o governo que está tentando transformar a vítima em culpado. Também Marina Silva, candidata do Partido Verde, depois de criticar a omissão do governo na investigação das quebras de sigilo, deixou aflorar sua alma petista e resolveu criticar também o candidato tucano José Serra, talvez sinalizando qual seria sua posição em um eventual segundo turno entre Dilma e Serra:
“As eleições estão indo por um caminho que não interessa ao Brasil. Interessa para alguém ganhar as eleições se fazendo de vítima para, de acordo com as circunstâncias, angariar a simpatia do eleitor”.
Para fugir desse tipo de acusação, o candidato José Serra passou a evitar o assunto como tema de sua campanha, transferindo para a direção nacional do PSDB o prosseguimento da disputa no plano institucional.
Uma eventual ida para o segundo turno pode oferecer aos tucanos uma rara oportunidade para a união de forças que não conseguiram neste primeiro turno.
O partido hoje aparece em primeiro lugar na disputa de sete estados, podendo eleger os governadores de São Paulo, com Geraldo Alckmin; Minas Gerais, com Antonio Anastasia; Goiás, com Marconi Perillo; Paraná, com Beto Richa; Piauí, com Sílvio Mendes; Roraima, com José Anchieta Júnior; e Pará, com Simão Jatene.
Tem chances ainda em Rondônia, com Expedito Júnior; no Amapá, com Jorge Amanajás; em Mato Grosso, com Wilson Santos; e em Tocantins, com Siqueira Campos.
Com a eleição para o Congresso definida a 3 de outubro, e alguns governos estaduais também, o PSDB poderá entrar num eventual segundo turno com uma força política maior, e mais coeso do que atualmente.
Mas antes, como diria Garrincha, tem que combinar com os russos, isto é, com os eleitores.
(Original aqui.)
Comentário meu: essa mídia tenta, a todo custo, fazer com que Dilma perca a eleição. Simples assim.