——————–
É excessivo o poder decisivo que está suposto em Marina; mesmo quem a preferiu tem uma parcela de incerteza
——————–
AINDA QUE confusa, com sua inexplicação de que o PV não adotará uma só decisão mas várias, a posição de Marina Silva sobre sua futura atitude no segundo turno é mais realista que a predominante entre nós, jornalistas e políticos.
Estamos de volta às indagações sobre transferência de votos, agora com o ingrediente adicional do rumo a ser dado por Marina aos seus eleitores. Mas a própria Marina não se mostra convicta da sua transferência orientada.
A combinação de motivos diferentes dos seus 20 milhões de votos lhe dá razão.
Os votos que tiraram Marina Silva da preferência em torno de 10%, com que apareceu nas pesquisas ao longo do primeiro turno, não tiveram motivação ideológica ou partidária. A persistência dos seus índices com variações insignificantes, por tanto tempo, sugeria representar a soma do seu próprio e do eleitorado do PV.
A nova massa de apoios que veio a revelar-se, tão repentina que as pesquisas tiveram dificuldade em detectá-la, e tão forte que duplicou o limite anterior de Marina, foi produzida por fatores não originários da candidata ou do seu partido. Foram coisa de 10 milhões de eleitores que preferiam outra candidatura ou, demonstrando não ter preferência por Marina Silva sobre os demais, inscreviam-se ainda entre os indecisos.
Por mais diferentes que tenham sido as causas da definição daqueles 10 milhões por Marina, seja abandonando um dos outros candidatos ou superando a indecisão, para todos a candidata do PV representou a alternativa de última hora a alguma insatisfação. Não foram, portanto, votos de adesão, propriamente, como aqueles que a acompanharam nos seus menos de 10% ao longo do primeiro turno.
O poder decisivo que está suposto em Marina Silva e no PV é muito excessivo. Além das circunstâncias especiais que contribuíram para metade ou mais de sua votação, mesmo os que a preferiram e ao PV desde cedo têm uma parcela de incerteza. São os que não aceitam a hipótese de votar em Dilma Rousseff ou de votar em José Serra. Tanto existem, que já se pode ouvi-los.
Mesmo antes que a preferência por Dilma Rousseff sofresse interferências negativas, Lula não conseguira fazer-lhe a transferência de apoios que previa. Não fez nem o bastante para compensar as interferências negativas.
Marina Silva não precisaria de imprevistos para que sua transferência de eleitores seja muito aquém do poder decisivo nela suposto. “Os votos são do eleitor”, lembra ela.
(Original aqui.)