São os dias mais delicados para a democracia, devido aos danos causados por perturbações eleitoreiras
Janio de Freitas
Aí está a semana mais delicada da campanha.
Para os candidatos, por ser aquela em que tudo é definitivo, sem mais tempo para desfazer ou recuperar-se de sempre possíveis adversidades, fabricadas ou não. Para o regime democrático em sua construção desordenada, por serem irreparáveis os danos e atrasos causados pelas perturbações eleitoreiras do estilo tudo ou nada.
Como houve para a eleição de Collor e na manipulação do sequestro de Abílio Diniz, casos mais extremados, mas não únicos.
A parte inicial do script para estes dias finais já está em curso. O PSDB e aliados investem no engrandecimento do choque entre o objeto na cabeça de José Serra e a reação de Lula.
A rigor, a gravação com celular feita pelo repórter Italo Nogueira, da Folha, a meu ver não permite a afirmação categórica de que um segundo objeto, contundente, atingiu a cabeça de Serra. O tumulto forçou imagens tremidas, que precisam de perícia, e talvez não uma só, para a interpretação segura.
A própria Folha, em cuja Redação no Rio a gravação foi examinada inúmeras vezes, tratou-a com cautela. A Globo decidiu bancá-la como imagem de um objeto atingindo Serra. Se houve esse objeto além da bolinha de papel, é certo que não teve mais de um palmo e não “era duro e pesava mais ou menos meio quilo”, como descrito por Serra.
Sabe-se que ele é cabeça-dura, mas não a ponto de nela receber um objeto com tais características e, nem se diga ferimento, mas sequer ficar marca na pele. É indispensável registrar que o vice Indio da Costa, no uso pleno do seu critério, deu ao objeto o peso de dois quilos.
Em situação idêntica à atribuída a Serra pelas pesquisas, a exploração do episódio é, digamos, normal para todo político e partido. O problema seria ultrapassar os limites políticos do episódio e entrar no território institucional. Atitude já suscitada pelo senador eleito Aloysio Nunes Ferreira com sua pretensa denúncia de fascismo.
E atitude também presente na intervenção descabida de Lula, sobretudo como foi feita, a título de reação. Ou, ainda que tenha sido, como prevenção por alguém calejado em adversidades fabricadas e de última hora. Esta seria até uma razão a mais para Lula, em vez da reação que competia a outros, fazer de sua experiência um alerta didático em defesa da lisura eleitoral.
O outro item do script em curso, pelo PSDB, são as suspeitas contra a disposição da Polícia Federal de encerrar a investigação das quebras de sigilo fiscal no ponto em que está.
Ou seja, na história de que o repórter Amaury Ribeiro Jr. encomendou a um despachante dados civis de certas pessoas; foram-lhe entregues dados não pedidos da Receita Federal, e tudo se destinava a uma operação interna entre pré-candidatos do PSDB.
A ruptura do sigilo devido pela Receita Federal é de muita gravidade. Ficou demonstrado que, além de fáceis e baratas, as violações não se limitaram a meia dúzia de pessoas ligadas a José Serra. Foram muitas, milhares, inclusive vendidas por camelôs de sigilos, no baixo comércio.
Nem a história dos dados sigilosos de peessedebistas é convincente nem começa e acaba em si mesma: é, isso sim, um fio que conduz a coisas muito maiores, que precisam ser investigadas, ou não serão extintas.
A semana final tem carga forte de suspense. Mas também o consolo de que é a última.
(Original aqui.)