É isto que acontece quando a política se desvincula de itens que, ainda que não a componham formalmente, fundamentam sua forma de agir – tal como a moral.
O episódio do ministério do Trabalho é uma das reprises com que o governo vem brindando a sociedade na série de crises de corrupção na máquina pública.
Instalou-se nesta um vírus cujo antídoto está na mudança de modelo que exclua a chamada ”porteira fechada”, pelo qual um partido político detém todos os cargos e mecanismos de uma Pasta.
E deles se vale para produzir um duto de desvio de verba pública que abastece seus cofres. O sistema é conhecido, mas se repete anos a fio, numa clara demonstração de que fugiu a qualquer controle.
Basta ver que são cerca de 500 as prestações de contas sequer olhadas superficialmente pelas instâncias de fiscalização. No caso do Trabalho, a coisa é mais escancarada: a tal ponto que o plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) fez uma moção pedindo providências.
O TCU, aliás, é outro agente que escapou às abordagens do tema: não custa lembrar que o ex-presidente Lula moveu campanha para reduzir seus poderes, numa análise invertida do problema: ao invés de moralizar os ministérios, tentou desmobilizar os fiscais.
Lupi repete seus antecessores até nas bravatas: “sou osso duro de roer e não jogo a toalha de jeito nenhum”, disse. Sente-se, portanto, “indestrutível” como Orlando Silva, ou “sólido como uma rocha”, como Wagner Rossi, da Agricultura.
Ambos caíram menos de 48 horas após proferirem as frases. Trata-se, portanto, mais do que uma frase de efeito, uma senha para a queda. É só questão de tempo.
Porque a premissa dos três estava equivocada: um ministro não precisa receber propina ou ser acusado de malfeitos para deixar o governo. O resultado de sua gestão é mais do que suficiente para a queda.
Ou seja, se um ministério comprovadamente produz corrupção, na escala demonstrada, a responsabilidade é do titular da Pasta. Impressionante é que esses titulares não se sintam dessa forma.
Ou melhor: queiram convencer a sociedade de que não é bem assim. E passem a uma estratégia de defesa pessoal da honra quando se está falando de gestão de dinheiro público.
Não há rocha, osso duro ou blindagem possível para tal realidade. E, de um a um, a reforma ministerial mantém seu curso. liás, o osso de Lupi parece mais sintoma de uma osteoporose ministerial.
(Original aqui.)