Os ministros herdados pela nova presidente, ou alguns deles, vem cometendo um erro de avaliação. O cenário da guerra com Luiz Inácio Lula da Silva era um. Com Dilma Rousseff é outro.
Há certa rotina quando aparecem acusações de corrupção contra políticos. Os adversários apressam-se para condenar, enquanto os aliados correm a acusar o que chamam de denuncismo.
Aliás, uma definição algo humorística para a dualidade é considerar que denuncismo são as denúncias lançadas contra nossos aliados enquanto denúncia é o denuncismo praticado contra nossos adversários.
Uma piada que merece ser levada completamente a sério.
É o teatro da política, com seus atores. Quando é contra adversários, uma revelação, uma palavra de ministério público, um relatório de tribunal de contas, um depoimento, tudo serve como prova definitiva.
Quando é contra aliados, exige-se o trânsito em julgado, a sentença da última instância, a presunção pétrea de inocência, o in dubio pro reo.
Quando é contra adversários, exalta-se a independência do Legislativo como esfera de fiscalização do Executivo. Quando é contra aliados, exerce-se a maioria parlamentar para trancar a porta às investigações.
Em nome da governabilidade. Para evitar a indesejável politização de algo que deveria correr apenas na esfera jurídica.
São scripts manjados, estão aí desde que o mundo é mundo.
Como equilibrar-se na gangorra? Não há solução simples. Os princípios jurídicos estritos não se aplicam à política.
Não dá para defender, como regra, manter no cargo o político acusado até que a instância judicial definitiva se pronuncie. E não dá para estabelecer que aqualquer acusação implique remover o acusado.
A verdade, como de hábito, costuma estar em algum ponto intermediário. Mas como localizar o ponto de equilíbrio na política? Infelizmente (ou felizmente, vai saber…) ele é definido pela relação de forças, pela disposição dos exércitos.
Disposição em ambas as acepções. Distribuição e vontade de combater. E, como em toda guerra, a vontade de lutar aumenta conforme a chance de vitória. E o contrário também vale.
Os ministros herdados pela nova presidente, ou alguns deles, vem cometendo um erro de avaliação. O cenário da guerra com Luiz Inácio Lula da Silva era um. Com Dilma Rousseff é outro.
Lula começou o governo centralizando poder, mas a crise desencadeada pelas acusações de Roberto Jefferson obrigou-o a acelerar a descentralização. E esta transformou-se em fonte de poder presidencial, pela blindagem propiciada.
Já Dilma precisaria buscar poder desfazendo o que Lula fizera. Para governar, retomar o controle do próprio governo, desfazendo feudos e dissolvendo bolsões de autonomia orçamentária.
Eis por que a relação de forças é desfavorável aos ministros que entram na linha de tiro.
Enquanto a periferia do governismo busca desvendar as conspirações e acusa quem aponta o dedo para os problemas chamados éticos, o governo porpriamente dito, especialmente a presidente, surfa na onda.
De vez em quando precisa moderar o ritmo, para dar alguma satisfação ao público interno, mas nada além disso.
A aliança de Lula era com os partidos e contra um certo pedaço da opinião pública. Já Dilma cultiva as relações com os antigos adversários de Lula, para limitar o poder do entorno. Mas sem romper com o entorno.
O dilmismo deseja o melhor dos mundos. Manter o arco de alianças construído por Lula e neutralizar os focos de crítica. Daí que pareça governar sem oposição.
(Original aqui.)