A essa altura, pouco importa que na próxima semana, de volta da Venezuela, a presidente Dilma Rousseff demita Carlos Lupi do Ministério do Trabalho como recomendou, ontem, a Comissão de Ética da presidência da República. O estrago na imagem dela já está feito.
O estrago na imagem de Lupi foi feito há mais tempo. Ele é um ministro que agoniza sob o sol há mais de um mês. Descobriu-se que alguns dos seus auxiliares cobravam comissões de ONGs a serviço do Ministério do Trabalho. Que ele, Lupi, mentiu ao Congresso ao negar que tivesse viajado em jatinho de empresário.
Ficou-se sabendo que Lupi foi funcionário-fantasma do PDT na Câmara dos Deputados por mais de cinco anos. E que nesse mesmo período foi funcionário da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. A Constituição proibe a acumulação remunerada de cargos públicos.
Lupi cheira mal.
Dilma peitou a recomendação da Comissão de Ética Pública. Depois de se reunir, esta manhã, com Lupi, anunciou que pedirá à Comissão a documentação em que ela se baseou para sugerir a saída do ministro. Está disposta a analisar a documentação antes de decidir a sorte de Lupi.
Como se fosse politicamente possível a Dilma ignorar a recomendação da Comissão e conservar Lupi ao seu lado! Se procedesse assim, na prática Dilma estaria dissolvendo a Comissão. Aos membros da Comissão não restaria outra alternativa senão a demissão.
Em menos de 10 meses de governo, Dilma demitiu ou aceitou o pedido de demissão de cinco ministros enrascados com denúncias de malfeitos. Foi apresentada ao país como “a faxineira ética”. E sua popularidade cresceu, conforme atestaram pesquisas de opinião.
Os malfeitos de Lupi a ele e ao seu partido pertencem – mas quem se enrascou foi Dilma. Jogou fora a fantasia de “faxineira ética”. Confiou que a fantasia já lhe dera o que podia. E – sabe-se bem lá por quê – decidiu afrontar o bom senso acreditando ou fingindo acreditar nas mentiras de Lupi.
Lupi jura ser inocente. Lupi disse a Dilma que pedirá a gravação da reunião da comissão que o condenou. E que em seguida tentará convencer a comissão a dar o dito pelo não dito. Algo do tipo: “Pensando melhor, o ministro não feriu a ética. Deve ser mantido no governo”.
Assessores da presidente confidenciam que ela pretendia demitir Lupi por ocasião da reforma ministerial prevista para janeiro. E que não queria dar à imprensa o gosto de ter derrubado mais um ministro com as suas denúncias. Sim, porque não foi o governo que se deu conta das maracutaias promovidas pelos caídos. Foi a imprensa.
Agora, assessores de Dilma garantem que ela demitirá Lupi até o meio da próxima semana. Não o fez hoje “para ganhar tempo”. Não esclarecem por que ela precisa ganhar tempo. Lupi deveria ter sido demitido ontem, tão logo Dilma recebeu a recomendação da Comissão. Que ela nomeasse um ministro interino. E voasse a Caracas.
Foi apenas um tremendo erro de cálculo o que levou Dilma a se enrolar com Lupi, a se enrolar mais, e a se enrolar completamente? Por que Lupi parece intimidar a presidente? O que foi feito da tigresa que no caso de Lupi só tem miado?
A “faxineira ética” jaz na lixeira. A tigresa ronda a lixeira.
(Original aqui.)