Depois de um longo percurso, do qual parecia que sairia mudado, o PSDB de São Paulo acabou no mesmo lugar. Com o anúncio de que José Serra vai disputar a eleição de prefeito da capital este ano, o partido voltou à estaca zero.
Nada de prévias, nada de renovação, nada de formar quadros para o futuro. Se o ex-governador mantiver a disposição de hoje – o que, com ele, nunca é certo -, fica tudo como dantes no quartel de Abrantes.
Para Serra, é a quarta tentativa de chegar à prefeitura da cidade e a oitava eleição majoritária desde 1988. Dessas, venceu três – o que não chega a configurar uma carreira de vitórias.
Pela enésima vez, o PSDB torna as pesquisas de intenção de voto seu critério fundamental de decisão. É como se a coisa mais importante do mundo fosse a posição dos candidatos na “corrida”.
Não deixa de ser curioso que um partido tão cheio de sociólogos e cientistas políticos – que deveriam saber avaliá-las – se comporte dessa maneira. Mais do que ninguém, têm a obrigação de conhecer os alcances e limitações de pesquisas desse tipo e a esta distância da eleição.
Pelo que estávamos vendo nas últimas semanas, uma parte do tucanato sofreu um ataque de pânico pré-eleitoral. Imaginaram que seriam derrotados, no primeiro turno, por Fernando Haddad.
Outra coisa engraçada: com toda razão, não se preocuparam com a posição de Haddad nas pesquisas de agora. O que os interessava era aonde poderia chegar.
Se tinha 4% ou 5%, não importava. Por ser bom candidato, porque deverá fazer boa campanha e, especialmente, por contar com o apoio de Lula e Dilma, apostaram no seu crescimento.
Mas não raciocinaram assim em relação a seus pré-candidatos. Talvez por não acreditar no potencial de nenhum e não levar fé na influência de seus líderes, enxergaram somente que os quatro estavam “mal” nas pesquisas – embora empatados com o candidato do PT.
Não foi difícil obter de Serra que se desdissesse. Sua jura de que não seria candidato tinha o valor de outras coisas com as quais havia se comprometido no passado.
É lógico que aceda ao “apelo dos correligionários”. Depois do que dele andou falando FHC e em meio a denúncias cada vez mais fortes de seus adversários, participar da eleição, mesmo que para perder, é positivo.
Contando com a simpatia quase unânime das grandes corporações da mídia, ele será mais bem tratado que o petista. De agora a outubro, terá oito meses de visibilidade, com a imensa exposição que apenas as eleições de prefeito oferecem aos candidatos, dadas as peculiaridades de nossa legislação eleitoral.
Melhor que a penumbra a que estava condenado a partir do momento em que Aécio foi sagrado “candidato óbvio” das oposições em 2014.
As pesquisas foram, outra vez, soberanas no ninho tucano, mas devem ser olhadas com atenção, antes de fazer planos para os próximos anos levando em conta que Serra ganhará.
Sem Marta, ele, de fato, lidera. Mas alcança uma vantagem diminuta para alguém com seu currículo: com 20%, conhecido por quase 100% dos eleitores e sendo o mais rejeitado, quanto conseguirá crescer – considerando que, com o que obtém hoje, não vai a lugar nenhum?
Seus amigos comemoraram que Kassab resolveu apoiá-lo. O problema é que isso faz com que ele se torne o “candidato óbvio” da continuidade de uma administração que vai (muito) mal.
É evidente que pode vencer. Haddad e Chalita são políticos jovens, menos conhecidos, e ele talvez receba o voto do eleitor despolitizado e desinteressado, para quem é mais cômodo votar em nomes familiares.
Não é isso, no entanto, que indicam as pesquisas. O petista e o peemedebista possuem larga perspectiva de crescimento, mesmo no eleitorado conservador, o atual bastião do serrismo.
Para ele – que não tem, a esta altura, nada a perder -, o resultado disso tudo pode não ser ruim. Para o PSDB, no entanto, é pouco provável que seja bom. Vencendo, nem Aécio, nem Alckmin terão um aliado sincero na prefeitura de São Paulo. Perdendo, o partido permanecerá sem opções para os próximos anos.
(Original aqui.)