Impossível imaginar que a presidente Dilma Rousseff tenha se surpreendido com a baixa qualidade ética da equipe montada sob a batuta do fisiologismo do seu patrono Lula. Ministra desde 1 de janeiro de 2003, nenhum dos escândalos ocorridos em seus primeiros 12 meses de poder deve ter causado surpresa a ela.
Mas tem sido visível o cuidado da presidente em evitar a retomada do gabinete de ministros defenestrados por “malfeitos” pelo mesmo esquema fisiológico que fazia e desfazia na pasta.
Há exemplos indiscutíveis. A troca de Orlando Silva por Aldo Rebello no Esporte. Os dois são do PCdoB, mas, até agora, não há indícios de que Rebello aceitará o ataque aos cofres públicos perpetrado por “camaradas” do partido sob o disfarce de ongueiros, como ocorria.
Outro caso é o do Ministério dos Transportes. Pelas últimas notícias conhecidas, o Planalto resiste a devolver a pasta ao balcão de negociatas do PR, administrado, no tempo do senador Alfredo Nascimento (AM) no gabinete de ministro , pelo deputado Valdemar Costa Neto (SP).
A tentativa de confronto com Dilma feita pelo grupo “dono” do Senado (Sarney, Renan, Jucá), no caso da recondução do direto3r da ANTT, foi bem aproveitada pela presidente para estabelecer limites. Destituiu Romero Jucá como devia, no timing necessário, e o substituiu por Eduardo Braga (AM), um peemedebista dissidente do esquema fisiológico e clientelista do seu partido que domina a Mesa do Senado.
Dilma tem obtido apoio e ampliado a popularidade no eleitorado de oposição, na classe média do Sul e Sudeste, sensível ao avanço da corrupção nos últimos nove anos, e não dependente da grande rede de assistencialismo montada pelo lulopetismo, eficiente cabo eleitoral junto à massa pobre do Norte e Nordeste.
Dilma, diante das dificuldades da conjuntura econômica, precisa de uma equipe mais profissional e de uma base parlamentar capaz de apoiá-la em reformas politicamente difíceis, mas imprescindíveis.
Entre outras, a conclusão das mudanças na previdência dos servidores e medidas para conter, a curto prazo, a gastança em custeio.
Se o plano é de fato acabar ou pelo menos conter o toma lá dá cá, tem razão Eduardo Braga quando fala em estender a base em direção a parlamentares marginalizados num Congresso dominado pela mediocridade do fisiologismo.
Em entrevista ao GLOBO, Braga citou Jarbas Vasconcellos (PE). Poderia incluir Pedro Simon (RS), também dissidente no atual PMDB.
O novo líder do governo no Senado não disse, mas será necessário negociar com a oposição. Foi com ela que Lula conseguiu iniciar a reforma da previdência do funcionalismo em 2003.
A entrevista de Braga aponta para um cenário improvável, o de uma relativa ruptura com um dos cânones do lulopetismo: a manutenção do poder a qualquer preço. E com o apoio do próprio Lula , segundo disse Braga ao jornal. Aguardemos.
Mas, se for isto mesmo, não haverá surpresa, pois o ex-presidente, se foi capaz de entender o risco que ele e o país correriam caso colocasse em prática no Planalto tudo o que havia pregado na oposição, pode muito bem perceber que chegou a hora de mais uma metamorfose. No melhor estilo Raul Seixas, novamente na mídia, por coincidência.
(Original aqui.)