Texto A lógica da ação coletiva


Texto A lógica da ação coletiva

Autor: M. Olson


Supõe-se que indivíduos com interesses comuns irão unir-se para, em grupo, tentarem atingir seu objetivo. A lógica de funcionamento do grupo é a seguinte: as pessoas unem-se para, juntas, conseguirem algo que irá satisfaze-las individualmente, ou seja, o resultado da ação do grupo irá beneficiar todos os seus membros individualmente. Esta é a conclusão racional, ou seja, o comportamento individual dos diversos membros fará o grupo conseguir o que quer.

Esta suposição é falsa. A menos que o grupo seja pequeno, ou então que haja algum tipo de coerção, os indivíduos não agirão de maneira coletiva para atingirem seus interesses individuais. Eles só agirão em benefício do grupo caso exista algum reconhecimento, ou retribuição, em troca de tal atitude. Isto é válido mesmo quando há acordo, entre os membros do grupo, em relação ao benefício comum e aos meios para atingi-lo.

A ação individual – que é desorganizada – ou não irá conseguir atingir seu objetivo, ou não atingirá o objetivo de maneira adequada. Desta forma, o objetivo do grupo é atingir interesses comuns de seus membros. O grupo irá tomar as mesmas atitudes que um indivíduo tomaria para conseguir o que quer, só que de uma maneira mais eficiente e organizada.

Apesar de os membros de um grupo terem um interesse em comum, eles também têm interesses individuais, e estes interesses individuais variam de um membro para outro. Isto pode ser exemplificado da seguinte maneira: no mercado, uma firma quer ganhar mais que as outras. O objetivo final de todas as empresas (o grupo) é aumentar seu lucro. Uma maneira de aumentar o lucro é diminuir a oferta. A empresa (indivíduo) quer que as outras empresas diminuam sua oferta, vendendo menos, mas ela não quer diminuir a sua própria oferta.

Outro aspecto importante a notar é que as pessoas têm consciência de que, se saírem do grupo, nada irá ser modificado de uma maneira importante. A pessoa sabe que, se ela sair, outras irão continuar e irão atingir o objetivo do grupo. Desta forma, ao final dos esforços do grupo, todos os benefícios conseguidos terão de ser passados a todos os membros do grupo, inclusive para aqueles que não fizeram nada pelo grupo.

Em resumo, isto significa dizer que os esforços do indivíduo não terão um efeito notável na situação do seu grupo, e ele pode beneficiar-se de quaisquer melhorias trazidas por outros membros do grupo, tenha ele trabalhado ou não apoiando seu grupo.

Dentro da teoria tradicional de grupos, há duas variantes. A primeira é a variante casual, que argumenta que os grupos são formados por causa de uma propensão humana fundamental em formar e juntar-se em associações. Os homens teriam um “instinto” que faria com que se unissem.

A segunda variante é a formal. Ela também enfatiza a universalidade dos grupos, mas não acha que haja um “instinto” humano para formá-los. Ao invés disso, a variante formal afirma que os grupos modernos evoluíram de grupos primitivos, e são o resultado de uma sociedade moderna e industrial.

Independentemente de qual variante seja usada, a verdade é que, apesar dos membros do grupo terem um interesse comum em obter o benefício coletivo, eles não têm interesse em pagar o preço para obter o bem coletivo. Cada um prefere que os outros paguem os custos, e que recebam, quer tenham ou não feito algum esforço, o bem coletivo.

Grupos pequenos podem funcionar e atingir seus objetivos mesmo sem usar por base recompensas ou coerção. Isto acontece quando um membro do grupo percebe que o bem comum almejado pelo grupo excede seu próprio interesse.

Pode ocorrer, também em pequenos grupos, a seguinte situação: graus diferentes de interesse. Desta forma, todos os membros, no início, estão empenhados em atingir seu objetivo comum. A partir do momento em que os primeiros resultados são atingidos, alguns membros podem parar de ajudar por sentirem-se satisfeitos, enquanto os outros membros querem continuar por acharem que pouco foi conseguido. Esta situação, entretanto, tem maior propensão a ocorrer na mesma medida em que o grupo cresce.

Esta situação traz como conseqüência, também, o fato de que o indivíduo menos interessado irá receber menos do bem comum do que o indivíduo mais interessado, ou seja, a distribuição do bem coletivo será desigual. Quanto maior o grupo, menores serão os benefícios conseguidos para seus membros.

O fato que faz com que os grupos que não têm por base o mercado aceitem novos membros, às vezes até tornando a entrada de tais membros compulsória, como os sindicatos, é que, quanto maior o número de membros, menor será o custo para aqueles que já fazem parte do grupo. Como não há disputa entre os membros em relação ao bem coletivo, quanto mais membros melhor.

Os grupos onde, quanto maior o número de membros, melhor são suas condições de ação, são chamados por Olson de “grupos inclusivos”. Por outro lado, grupos onde um novo membro aumentará a disputa pelo bem comum são chamados de “exclusivos”. O que define um grupo depende, portanto, da natureza do objetivo do grupo, e ele pode ser exclusivo em um contexto e inclusivo em outro.

Outra diferença é que em um grupo inclusivo não há a necessidade de participação de 100% dos seus membros, pois se um membro não participante obtiver um benefício, os outros membros que participaram ainda terão acesso ao benefício. Por outro lado, em grupos exclusivos, deve haver a participação de 100% dos seus membros, ou então não haverá acordo entre os participantes.

Desta forma, tanto o desejo de limitar o tamanho do grupo quanto a necessidade de 100% de participação, em um grupo exclusivo, irão aumentar a intensidade e a complexidade das reações oligopolísticas. Pr outro lado, barganhas e interação estratégica é muito menos importante em grupos inclusivos. Isto ocorre porque não há a necessidade de eliminar ninguém do grupo, como ocorre nos grupos exclusivos.

O conflito em grupos inclusivos pode ocorrer da seguinte maneira: quando um de seus membros decidir que não irá mais contribuir. Neste caso, pode ocorrer de o custo para os outros membros aumentar muito, e estes também pararem de contribuir e, assim, todos fiquem sem o bem coletivo. A situação só poderá ser revertida caso o membro que primeiro parou de pagar volte a contribuir, e o custo novamente diminua para todos.

Portanto, o padrão para determinar se um grupo terá capacidade ou não de agir sem coerção ou induções exteriores em seu interesse de grupo é o mesmo, tanto para grupos inclusivos quanto exclusivos: depende se as ações individuais de um ou mais membros quaisquer do grupo são notadas por quaisquer outros indivíduos no grupo. Isto é função, óbvia mas não exclusivamente, do número de membros do grupo.

É importante que os grupos saibam organizar seus custos. O seguinte exemplo demonstra bem esta necessidade: quanto maior o grupo, menores serão os custos de cada membro em relação ao seu bem comum; por outro lado, quanto maior o grupo, maiores serão os gastos para gerenciar e organizar o grupo. O número de membros, portanto, é uma “faca de dois gumes”, trazendo benefícios por um lado e prejuízos por outro. Quanto maior o grupo, maior será a necessidade de coerção para manter o grupo unido em torno de um benefício coletivo.

A “fórmula” encontrada por Olson para que grupos grandes funcionem é um incentivo parecido com o bem coletivo almejado pelo grupo. Tal incentivo, contudo, é seletivo, e pode ser positivo ou negativo. É seletivo porque premia (ou pune, de acordo com sua orientação positiva ou negativa) apenas aqueles que se empenharem (ou que não fizerem nada) pelo grupo como um todo.

Por fim, o autor chega à conclusão de que grupos pequenos irão atingir seus objetivos mais facilmente do que grupos grandes.


Dúvidas? Entre em contato para debatermos o tema.

Um abraço a todos e até a próxima!

Prof. Matheus Passos

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