A essa altura, todos já sabem a respeito do apagão ocorrido ontem à noite, especialmente na região sudeste do país. No momento em que escrevo, as informações dizem que a causa do apagão não foi na geração, e sim na transmissão da energia a partir de Itaipu.
Independentemente das causas do apagão elétrico, vemos atualmente no país um imenso apagão de ideias na esfera política. Sigo alguns políticos no twitter, tanto os de “direita” quanto os de “esquerda” — melhor dizer, tanto os “pró” quanto os “contra” o presidente Lula –, e nas últimas semanas (ou seriam meses?) não há absolutamente nenhuma discussão a respeito de propostas para o futuro do país. Não que eu espere arroubos de genialidade, de originalidade e de preocupação com o público dos políticos que temos; não que eu seja ingênuo de achar que políticos (em qualquer época, de qualquer lado do espectro político) se preocupem realmente com os anseios populares. Mas parece-me que nossos políticos não conseguem perder a mania de querer cavar cada vez mais para baixo, mesmo já tendo chegado ao fundo do poço.
A aridez intelectual pode ser resumida em três campos. O primeiro é aquele dos políticos pró-Lula, que não se cansam de dizer que o governo atual é lindo, maravilhoso, perfeito, insubstituível. O mais característico desses é Ricardo Berzoini: todos os dias suas mensagens no twitter apresentam comparações entre o governo FHC e o governo Lula, logicamente dizendo que o último sempre é melhor que o primeiro.
O segundo campo é oposto ao primeiro, composto por políticos que só sabem criticar o governo atual. Insistem em dizer que tudo que o governo Lula faz é consequência das condições deixadas por FHC, além de ser (quase) tudo fundamentado em manipulações ideológico-eleitoreiras — ou seja, não são realizações reais, e sim fantasiosas.
O terceiro e último campo é composto por aqueles políticos que tentam se situar acima dos dois campos anteriores, mas são tão áridos e superficiais quanto ambos. Até apresentam ideias interessantes, como a de que qualquer governo deve se preocupar com a educação e com o meio ambiente, mas ficam apenas no mundo das ideias, não apresentando efetivamente propostas que possam colocar tais ideias em prática.
Repito: devido à minha formação acadêmica, não sou ingênuo em achar que políticos não se utilizam de recursos demagógicos para atingir seu objetivo — votos. Não sou ingênuo em achar que políticos pensam no povo. Mas, ainda como cientista político, vejo como extremamente perigoso o caminho tomado especialmente pelos dois primeiros campos — que são majoritários –, pois a exacerbação de argumentos “pró” e “contra” qualquer tema levam a extremismos e à intolerância em relação às ideias do “outro”. E, como sabemos, um dos elementos fundamentais da democracia é justamente a tolerância e a aceitação das ideias do outro. Além disso, a política brasileira gira atualmente ao redor de uma única pessoa — Lula — e não em torno de ideias. Quando a política se torna plebiscitária e personalizada, podemos ter uma única certeza: alguma coisa está muito errada.
Parabéns pelo texto.
É, Matheus, e esse apagão de ideias penetra em tudo – na Educação, na Saúde e por aí vai… A escuridão é geral! Pena que dura mais de duas horas! O empobrecimento de um povo (e aqui não me refiro apenas à questão monetária, não!) se mede pela ausência de Poderes que estejam realmente interessados em melhorar alguma coisa.
Mas, assim como você, eu continuo na firme empreitada de colaborar para que uma lâmpada esteja sempre acesa, como um fogo ardente, buscando mais luz nesse mar de escuridão.
Parabéns pelo texto!
é verdade a culpa não é só de FHC