(Comentários ao final.)
Editorial da Folha de S. Paulo:
O COORDENADOR da pré-candidatura de Marina Silva (PV) à Presidência, Alfredo Sirkis, lançou mão de uma fórmula astuciosa para indicar o lugar da senadora no espectro ideológico: ela não se encontraria nem à esquerda, nem à direita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — mas à frente.
A ideia de uma opção eleitoral “pós-Lula”, que resiste à desgastada e por vezes enganosa oposição entre petistas e tucanos, é uma estratégia pertinente.
Ajusta-se, antes de tudo, à marca da candidatura, que prescreve novas relações entre economia e ambiente – algo difícil de ser enquadrado nos surrados rótulos esquerda e direita. A pauta ambiental, aliás, desperta com frequência rejeições das duas alas, embora tenha-se tornado eleitoralmente vantajoso posar de defensor da natureza.
Essa ambiguidade é nítida na súbita “conversão” ao discurso contra o efeito estufa da ministra Dilma Rousseff — a “mãe” do desenvolvimentismo estatal. De maneira análoga, na oposição é comum a transigência com agressões ao ambiente, embora o governador José Serra também tenha anunciado metas de redução de emissões em São Paulo.
Mas se a presença de Marina cobra dos adversários mais atenção com a temática ecológica, sua candidatura, em sentido contrário, vê-se instada a apresentar propostas consistentes em outras áreas. É o que tem feito — e até aqui de modo mais claro do que os rivais. A entrevista com o possível vice da chapa, o empresário Guilherme Leal, que a Folha traz hoje, é prova disso.
Sabe-se que a candidata dará ênfase à educação; que defenderá uma concepção moderna de Estado, mais leve e eficiente; que será favorável à racionalização tributária; que preservará a autonomia do Banco Central; e que manterá o Bolsa Família.
Para quem imaginava uma postulação confinada a clichês verdes, Marina Silva vai-se revelando uma boa surpresa.
(Original aqui.)
Comentários: Ok, Marina é a “boa surpresa”. Sem dúvida, é uma ótima surpresa, e seria melhor ainda se ela pudesse acabar com a polarização Dilma-Serra, ou em outras palavras, Lula-Oposição — não porque eu não goste de um sistema bipolar, mas porque o determinismo eleitoral que se configura nesse momento é sufocante.
Contudo, fica a pergunta: será que esta “boa surpresa” conseguirá influenciar em alguma coisa? O próprio texto já afirma que agora todos que querem se eleger se dizem ambientalmente corretos — e claro que isso, por si só, já é algo bom. Mas que não adianta nada se for usado apenas como marketing eleitoral — ou eleitoreiro…
Eu acho que a grande novidade que a Marina vai trazer será um novo olhar a respeito das eleições. No entanto, o impacto que ela causará, imagino eu, será pequeno, tendo em vista a cultura do povo brasileiro — especialmente a animosidade política, que faz com que a massa de eleitores “vá levando” e, no final, acabe tendo o voto útil de votar na Dilma ou no Serra porque, se votar na Marina, “estarei jogando fora meu voto”. Acho que a candidatura da Marina é limitada não devido a ela mesma, mas devido à limitação da consciência do povo brasileiro — que, em sua maioria, vai votar tendo como objetivo a personificação do poder típica do Brasil, e não apenas após parar pra analisar as propostas dos candidatos. Se a Marina conseguir reverter um pouco a apatia política brasileira, talvez tenha alguma chance; mas se deixar essa oportunidade passar, infelizmente vejo pouquíssimas chances dela até mesmo influenciar no surgimento de um eventual segundo turno.