Desde 2005, a Turquia está negociando sua eventual entrada na União Europeia. O impasse do Chipre e a resistência dos conservadores europeus são grandes entraves. Longa espera motiva Ancara a rever sua política externa.
O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que governa a Turquia desde 2002, apontara o ingresso do país da União Europeia como sua meta prioritária ao assumir o poder. Em vista disso, Ancara implementou uma série de reformas para adaptar o país às exigências impostas pela UE. Após sua reeleição em 2007, o AKP deixou de ambicionar a adesão ao bloco europeu como objetivo máximo de seu governo.
As negociações são morosas. No final de junho, no último dia do mandato espanhol na presidência da União Europeia, teve início um novo capítulo, cujos temas agora são segurança alimentar, saúde veterinária e o problema da insalubridade no uso de agrotóxicos. Trata-se do 13º capítulo desde o início das negociações em outubro de 2005.
Eduard Solar i Lecha, encarregado de questões mediterrâneas do Centro de Relações Internacionais e Desenvolvimento, sediado em Barcelona, considera isso um indício do lento avanço das negociações, avaliando com pessimismo as relações entre a Turquia e a UE.
“Muitos na Turquia começam a acreditar que não precisam mais da UE, que são fortes o suficiente e dispõem de bastante potencial econômico e prestígio político para sobreviverem sem a União Europeia. E também há muitos europeus que acreditam que não precisam da Turquia”, comentou ele.
Se os governos europeus não mudarem sua política em relação à Turquia, não deverá haver nenhuma ruptura nesse processo, avalia Solar. Em decorrência do impasse no Chipre, oito dos 35 capítulos de negociação estão estagnados.
No máximo uma “parceria privilegiada”
Além disso, o ingresso da Turquia na UE encontra resistência dos partidos conservadores europeus. Na Alemanha, por exemplo, a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU), ambas integrantes da coalizão de governo, aprovariam no máximo uma “parceria privilegiada” com a Turquia. A França, sob o governo de Nicolas Sarkozy, é mais um influente país-membro da UE que rejeita a aceitação da Turquia.
O professor Heinz-Jürgen Axt, do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Duisburg-Essen, adverte para a grande decepção dos turcos com a União Europeia, que teria provocado mudanças de percurso na política externa turca.
“As pessoas se sentem rejeitadas, de certa forma. E começam a procurar outros pontos de apoio, outros campos onde o país possa se destacar na política externa”, avalia ele. No entanto, ele recomenda aos políticos turcos que mantenham o contato com a EU. “Afinal, uma Turquia dissociada da EU também não poderá implementar o programa ao qual se propôs.”
Na Turquia, autoridades governamentais afirmam que o processo de negociação continua, mas há quem seja de outra opinião e suspeite que a UE já tenha deixado de ser uma prioridade da política externa turca.
Para o politólogo Ahmet Kasim Han, da Universidade de Istanbul, uma das razões do crescente destaque da Turquia na política internacional também se deve ao fato de o país ter sido deixado pela UE na sala de espera.
“Atualmente, a Europa é o maior parceiro comercial da Turquia. Ainda precisamos aguardar para ver como a crise econômica das potências europeias se refletirá nas relações turco-europeias. Mas os laços não vão se romper assim, sem mais nem menos. Afinal, as relações turco-europeias não dependem apenas das relações com a UE”, comenta Han.
(Original aqui.)