Análise: Quem procurava uma bala de prata não achou
A expectativa geral pelo último debate entre os candidatos à Presidência era por um confronto mais franco dos candidatos José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) com a petista Dilma Rousseff, líder nas pesquisas de intenção de voto.
Nada mais natural, já que a apenas três dias da eleição, o sonho de chegar ao segundo turno passa necessariamente pela perda de apoio da ex-ministra da Casa Civil.
Nada disso aconteceu, porém. A candidata oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi pressionada fortemente em nenhum momento por seus principais adversários.
O escândalo que derrubou Erenice Guerra, braço direito de Dilma, do comando da Casa Civil, foi ignorado.
O polêmico tema da legalização do aborto, que provocou grande inquietação na campanha de Dilma por medo de perda do voto dos eleitores católicos e evangélicos, também não foi abordado em nenhum momento.
Na prática, a chamada bala de prata, que poderia causar um baque eleitoral em Dilma, sequer esteve perto de aparecer durante um debate completamente morno, sem surpresas e recheado por promessas vagas sobre intenções de propostas de governo.
Na verdade, com pesquisas indicando ainda alguma possibilidade de realização de segundo turno, os candidatos pareciam muito mais focados em não cometerem deslizes do que em tentar algum movimento mais ousado.
A proposta de não derrapar na curva final ficou tão evidente que até mesmo o maior personagem de toda a campanha presidencial desapareceu.
O nome do presidente Lula, principal motor eleitoral da candidatura de Dilma, deixou de ser assunto. Consolidada na liderança das pesquisas de intenção de voto, a petista nem precisou apelar para o padrinho de sua campanha.
Sem poder enfrentar a popularidade do presidente, os outros candidatos preferiram não invocar seu nome, criticando outra entidade: o governo federal.
Debates já tiveram o poder de decidir disputas. Foi assim em 1989, quando Fernando Collor desmontou um então inexperiente Lula com críticas que envolviam familiares.
Agora, a situação é diferente. Ensaiados à exaustão, até novatos como Dilma já sabem suas respostas de cor. Ontem, elas passearam monotonamente sobre temas tão diversos como legislação trabalhista, impostos ou saneamento.
No domingo, o eleitor poderá decidir ou não pelo fim da disputa já no primeiro turno. Mas não terá sido influenciado pelo último debate.
(Original aqui.)