A simples informação de que a presidente Dilma Rousseff pensa em colocar na articulação política a ex-senadora Ideli Salvatti, atualmente no Ministério da Pesca como compensação pela derrota que teve na disputa do Senado em Santa Catarina, mostra qual o perfil que ela pensa para um governo que tenha “a sua cara”.
A confirmação da escolha trará duas informações importantes: a presidente está resistindo a grupos de pressão do PT e do PMDB e está montando uma assessoria direta de mulheres que têm como característica marcante a rispidez no trato, à sua imagem e semelhança.
Se vai dar certo, só o tempo dirá, mas teremos dias bastante movimentados no Planalto Central do país e muitas histórias de bastidores sobre a atuação das “amazonas” petistas.
A imprevisibilidade das escolhas pessoais da presidente Dilma é tão grande que o PMDB tentou inicialmente jogar na permanência do ainda ministro Luiz Sérgio nas Relações Institucionais, temendo justamente o surgimento de um nome como o da ex-senadora Ideli.
Mas a presença dele no cargo está inviabilizada pela facilidade com que a especulação de sua saída provocou uma corrida a seu posto dentro do próprio PT, o que indica que ele é considerado uma carta fora do baralho nesse jogo de reorganização do primeiro escalão do governo Dilma.
A disputa dentro do próprio PT e a tentativa do PMDB de se colocar como um player a ser consultado, quando não pronto para assumir as funções mostram como será difícil para o futuro ministro das Relações Institucionais organizar os dois principais sócios dessa imensa aliança partidária que dá suporte ao governo Dilma.
O PT está dividido na indicação, com o grupo ligado ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e ao líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), querendo o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia, enquanto o líder do governo, Cândido Vaccarezza, está buscando apoio fora de seu partido no PMDB, no PSB, no PCdoB e no PDT.
Também o grupo de senadores do PMDB que gravita em torno do presidente do Senado, José Sarney, e do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, apoia a escolha de Vaccarezza, considerado de bom trânsito entre os aliados.
Um nome do PMDB, a esta altura dos acontecimentos, parece inviável, e tudo indica que a reformulação do primeiro escalão do governo Dilma vai provocar uma nova confrontação entre PMDB e PT.
Mesmo que alguns gestos tenham indicado que o vice-presidente Michel Temer terá maiores responsabilidades dentro do governo, prossegue o clima de desconfiança e insatisfação.
O que se teme é que, com um trio desses a centralizar as negociações políticas e administrativas do governo, seja impossível chegar-se a um acordo político que ponha a máquina governamental para funcionar minimamente.
A presidente Dilma Rousseff parece estar convencida de que, ao montar uma base aliada com cerca de 70% do Parlamento, tudo estaria resolvido, sem necessidade de negociações pontuais.
Age como se a predominância do Executivo sobre o Congresso fosse um fato da vida.
Por isso teria escolhido pessoas de estilo, digamos, agressivo de trabalhar, no pressuposto de que só tocando a base desse jeito vai se chegar a algum lugar.
O trio não estaria preparado para assimilar as manhas e idiossincrasias dos políticos, e por isso o PMDB e demais partidos preferem o líder Vaccarezza para o cargo de ministro das Relações Institucionais, um político petista mais flexível na relação com a base aliada.
Mas Vaccarezza não tem força dentro do seu próprio partido, tendo sido derrotado na escolha da presidência da Câmara pelo deputado Marco Maia, que hoje trabalha a favor de Arlindo Chinaglia.
Como se vê, o que poderia ser o recomeço do governo Dilma, com a presidente assumindo o controle das escolhas de seu primeiro escalão, pode se transformar no começo de uma crise institucional que confirmará a previsão do ex-presidente Lula, que disse que, se tirasse Palocci, o governo de Dilma se arrastaria até seu final sem condições operacionais.
Aconteceria com Dilma ao perder o suporte de Palocci o contrário do que aconteceu com Lula ao perder José Dirceu e Palocci.
Enquanto ele se fortaleceu ao assumir pessoalmente a coordenação política e apelar ao relacionamento direto com a população, Dilma explicitaria suas deficiências, exacerbando seu estilo agressivo de comandar.
Essa maneira de encarar a gestão administrativa, sem levar em conta as sutilezas do relacionamento político no Congresso, pode paralisar o governo e ocasionar crises políticas em série.
Ainda mais quando o governo tem pela frente uma votação difícil como a do Código Florestal, em que já foi derrotado na Câmara.
(Original aqui.)