A Europa, como os Estados Unidos, consome demais e produz de menos. Mas, diferente dos americanos, não tem um ambiente com liberdade econômica suficiente para relançar rapidamente a expansão capitalista.
Uma crise econômica gravíssima que aumenta exponencialmente a taxa de desemprego deveria levar as pessoas a pedir mais proteção do Estado e, portanto, favorecer a esquerda.
Mas na Europa quem emerge na crise com poder político reforçado é a direita.
Mesmo na Itália, onde o tsunami econômico-financeiro derrubou o direitista Silvio Berlusconi, quem entrou no lugar foi um governo “técnico” comprometido com a austeridade.
Austeridade parece ser a palavra da moda na Europa. Da Grécia ao Reino Unido, da Itália à Espanha, os eleitores parecem inclinar-se agora para quem sempre defendeu menos Estado, não mais.
Há exceções, como a Dinamarca, mas são exceções.
Quando a primeira grande onda da crise engolfou o mundo desenvolvido, a linha imediata de defesa foi o Estado.
Que se endividou e emitiu o suficiente para evitar a quebra das empresas, financeiras ou não, grandes demais para irem à breca.
Na primeira fila, o premiê britânico, Gordon Brown, a quem devemos muitos agradecimentos por o planeta não ter quebrado.
Brown defendeu que os Estados oferecessem garantias ilimitadas para evitar que maus passivos causassem falências em cascata.
O premiê, ele próprio ex-ministro das Finanças do longevo governo trabalhista de Tony Blair, só por isso já mereceria uma estátua.
Além de não recebê-la, foi duplamente mandado para casa na primeira eleição: perdeu o cargo e também a liderança do partido.
Agora é o colega espanhol quem segue o mesmo caminho.
Qual é o problema da Europa? O mesmo do resto do mundo. O modelo funcionou razoavelmente para evitar o pior, mas não indica as portas de entrada para um mundo melhor.
Uns dizem que o remédio é ruim, outros dizem que a dose foi insuficiente, mas os povos não parecem querer pagar para conferir esta segunda hipótese.
Para sair da crise com vigor, a Europa precisaria reorganizar-se economicamente e buscar para si algum protagonismo.
Tirando a Alemanha e seu ainda vigor tecnológico, o que exatamente a Europa faz melhor que o resto do mundo?
Em inovação, os americanos lideram, seguidos pela Ásia. Em commodities agrícolas, quem manda é o mundo emergente. Igualmente em recursos minerais.
Energia? Não parece que a Europa tenha algo de realmente novo a oferecer.
Indústria, exportação? Aqui manda a China. Serviços? Muita gente competitiva, não parece haver grande vantagem para ninguém.
A Europa, como os Estados Unidos, consome demais e produz de menos. Mas, diferente dos americanos, não tem um ambiente com liberdade econômica suficiente para relançar rapidamente a expansão capitalista.
E o risco que corre é ser devorada de um lado pela superpotência e de outro pelos emergentes.
Um problema do Velho Mundo é exatamente este: a velhice.
Paralelismos
Analistas fazem paralelos entre o cenário espanhol e o brasileiro, duas economias de crescimento baseado não em poupança, mas apenas na expansão do crédito.
O Brasil tem diferenças óbvias em relação à Espanha. A primeira e mais importante é a alta taxa de emprego.
O problema é que o baixo desemprego brasileiro se deve bastante à expansão do consumo via crédito.
Mas tudo tem limite, e se hoje o brasileiro não chega a dever muito, na comparação com outros, arca com um serviço altíssimo das suas dívidas, alimentadas pelo nosso juro recorde.
Tanto a Europa como o Brasil precisariam absorver algo do modelo chinês. Dar mais peso relativo à poupança e às exportações.
E isso no exato momento em que a China percorre o caminho oposto. Pois os chineses perceberam lá atrás que não dá para sustentar um crescimento baseado só nas exportações num mundo cada vez mais protecionista.
(Original aqui.)