O texto intitulado Por que o eleitor deve mudar a forma de votar, de Fernando Abrucio, é importantíssimo. E por dois motivos.
Em primeiro lugar, porque como o próprio título já diz, o eleitor é responsável pelas consequências dos seus atos. Não é possível mais considerar-se que só os políticos sejam os “culpados” pelos problemas da nossa sociedade. Isto não significa dizer que eles não sejam responsáveis. São, e muito. Mas o eleitor também, especialmente quando se considera o dever fundamental de participação política do cidadão. Em suma: não adianta reclamar “dos políticos” se o cidadão não se envolver.
Em segundo lugar, o texto é importante porque retrata a nossa realidade atual. Mas mais que isso: o texto é de 2008. Foi publicado em 8 de agosto daquele ano, portanto há 9 anos atrás. Veja o leitor atento que, em praticamente 10 anos, nada mudou. Infelizmente.
Veja logo abaixo o texto. Deixe ao final seus comentários ou, se preferir, entre em contato diretamente para debatermos o tema.
Um abraço a todos e até a próxima!
Prof. Matheus Passos
Não há personagem mais criticado na sociedade contemporânea que os políticos. De fato eles são muitas vezes responsáveis por diversas mazelas sociais. Mas duas coisas não devem ser esquecidas. Em primeiro lugar, são os cidadãos que elegem seus representantes, o que lhes dá o poder de premiar os melhores e punir os piores. Além disso, vários vícios políticos começam na relação que os eleitores estabelecem com seus candidatos na época da eleição. Sem mudar a maneira como as pessoas definem seu voto, a eterna ladainha contra os políticos vai permanecer estéril.
Dois tipos de escolha eleitoral alimentam a descrença na política. O primeiro vincula-se ao modelo paternalista-clientelista. São aqueles eleitores que votam à espera da defesa de seu interesse mais imediato. Numa versão mais benigna, o político será aprovado se garantir o posto de saúde ou a linha de ônibus para a sua clientela. Numa versão mais maligna, os representantes serão reeleitos se obtiverem alguma benesse mais palpável ao eleitor, como um emprego público.
Em ambos os casos, o mesmo cidadão que fica contente por ter sido beneficiado diretamente é aquele que poderá ser prejudicado em decisões que afetam o conjunto da coletividade. Em troca do voto, ele “ganha” uma casa próxima a uma região de manancial e anos depois o “presente” transforma-se em problema, quando o abastecimento de água é atingido, afetando toda a cidade, incluindo aí o seu lar. Num cenário pior, o eleitor fica feliz de dia com as migalhas recebidas de seu padrinho político e entristece à noite ao ver, no jornal da TV, a reportagem sobre as maracutaias cometidas por seu “protetor”.
Outro padrão eleitoral perverso é o “desinteressado pela política”. Sua visão é fatalista, baseada no discurso “meu voto não muda nada” ou no lema “os políticos são todos iguais”. Por isso, esse cidadão não procura se informar muito na época da eleição e define seu voto às vezes seguindo o conselho de um amigo. Outras vezes, orienta-se pelo marketing político ou opta pelo “candidato cacareco”, escolhendo o mais exótico para protestar contra o sistema. Esse comportamento torna a perspectiva fatalista uma realidade.
Esses dois tipos de eleitor são alimentados pela maneira como grande parte dos políticos atua. Muitos mantêm a prática tradicional das barganhas localistas e personalistas, principalmente na disputa para vereador. Para os cargos majoritários, como prefeito, predomina um marketing das “promessas sem fim”, recheadas por formas modernas de comunicação. Aliás, a modernização da linguagem de campanha poucas vezes é acompanhada pela transformação da prática dos políticos.
Uma parcela significativa dos cidadãos não se encaixa nas duas categorias aqui expostas, e mesmo os “paternalistas-clientelistas” e os “desinteressados” não são meramente engabelados pelos políticos. Estudos mostram como boa parte dos eleitores tem punido os maus políticos, os envolvidos ou suspeitos de corrupção – como revelou uma pesquisa de Carlos Pereira (Michigan State/FGV), Marcus Melo (UFPE) e Carlos Maurício (UFPE). Mas a punição não leva à escolha de candidatos melhores.
Neste sentido, vale citar alguns critérios importantes para a definição do voto. O primeiro é geral: informe-se sobre a eleição por várias vias, que abarquem versões diferentes da realidade. A pluralidade de opiniões favorece fugir das falácias do marketing político. Num plano mais específico, é preciso saber quanto seus candidatos conhecem os problemas de sua cidade e se apresentam propostas factíveis. Desconfie de planos mirabolantes e dê preferência aos que digam quanto custa cada promessa – afinal, “não há almoço grátis”.
As idéias são muito importantes, mas elas podem ser mais bem avaliadas se contrastadas com a biografia dos candidatos. Além do mais, não se oriente apenas por seus interesses mais imediatos. Quem não conseguir lutar pelo que é bom para todos certamente um dia o prejudicará. Talvez seja a miopia de eleitores e de políticos o que mais alimenta hoje a visão negativa sobre o mundo da política. Para consertar isso, adote critérios que dêem uma visão telescópica ao seu voto.
Informar sobre a eleição em várias vias,como diz o autor, significa saber um pouco mais sobre o candidato em vários jornais e não somente nos debates, horário político e no site da campanha?
É isso?!
Obrigada!
Exatamente. Sem conhecimento não conseguimos avaliar bem os candidatos!