Veja o texto A Elite do Poder


Veja o texto A Elite do Poder

Autor: C. W. Mills


Segundo Mills, a elite é formada por homens que estão além da esfera de influência do homem comum. Isto significa dizer que a elite toma decisões de grandes conseqüências, e não fica confinada ao dia-a-dia das pessoas da classe dominada.

Além disso, o que importa não é se a decisão tomada tem conseqüências boas ou ruins para a sociedade, e sim o ato de decidir. A indecisão é muito mais prejudicial do que uma decisão tomada de maneira errada.

A elite americana tem sua origem em três vertentes: militar, econômica e política. Desta forma, o Estado, as empresas e o exército constituem os meios do poder, e no seu ápice estão os postos de comando da sociedade. A família, a igreja e a escola são instituições que também têm um certo poder, mas este é infinitamente pequeno e restrito se comparado ao poder das três esferas superiores.

Estas vertentes relacionam-se entre si. Uma decisão política irá afetar diretamente as decisões dos líderes econômicos e militares, e vice-versa: cada decisão tomada em uma esfera influi nas decisões das outras esferas. Desta forma, os chefes das três esferas reúnem-se para formar a elite do poder nos EUA.

A elite é a classe que tem o máximo possível de prestígio, dinheiro e poder. E de que forma a elite consegue dinheiro? É óbvio que a empresa moderna é a principal fonte de riqueza, mas o cargo político também abre portas para a fortuna. E, uma vez conseguida a fortuna, gradativamente o grau de influência nas decisões vai aumentando, até que o indivíduo passa a fazer parte, legitimamente, da elite política; ou então ele pode chegar à elite através da carreira militar (apesar de este ser um passo muito demorado).

É interessante notar que os cargos das três esferas da elite – militar, econômica e política – são intercambiáveis, isto é, alguém que é de um alto escalão do governo pode muito bem tornar-se um chefe militar ou o presidente de uma grande empresa, assim como um executivo pode tornar-se militar ou governante. Desta forma, o prestígio, que já existia devido à função anterior, aumenta, ou seja, é cumulativo: quanto mais se tem, mais se pode conseguir. Isto é válido também para a riqueza e para o poder.

O curioso disso tudo é que a elite americana tem origens diferentes da elite européia. Nos EUA, não existiu uma sociedade feudal, e isto é de importância decisiva para a natureza da elite americana. Por quê? Simplesmente porque não houve nenhuma nobreza ou aristocracia antes do capitalismo lutando contra uma burguesia ascendente. O poder e prestígio não estavam nas mãos da nobreza, para só depois passar para as mãos da burguesia. Esta, desde o início, monopolizou tanto o poder quanto o prestígio e a riqueza. Desta forma, a burguesia praticamente não tinha oposição.

A elite coloca-se como uma classe de valores morais superiores. Esta é uma ideologia utilizada pela própria elite, e também por aqueles que querem obter benefícios dela. À elite é permitido o acesso às altas rodas de poder que comandam as hierarquias institucionais da sociedade moderna.

É curioso, contudo, o fato de que os americanos não gostam de serem chamados de elite. Eles não querem ter o rótulo de alguém que faz parte da elite; assim, nenhum americano candidata-se para governar, e sim para servir ao país e ao povo; nenhum americano é um funcionário, e sim um servidor público.

Dentro da elite, existem aqueles que tomam as decisões que guiam o país: é a elite do poder. Esta elite do poder é formada pelos altos escalões militares, econômicos e políticos, os quais tomam as decisões que irão guiar o país. Para que haja esta coesão na elite do poder, devemos notar que seus membros tiveram origem e educação semelhantes, têm estilos de vida semelhantes, e pensam de maneira semelhante, dando unidade às decisões; e quanto maior a unidade, maior o alcance que suas decisões têm no cotidiano das pessoas.

Podemos dizer que a elite formou-se quando os homens viram que atingiriam seus objetivos pessoais mais rapidamente se se juntassem a outros homens, com objetivos semelhantes, e juntos trabalhassem para conseguir o benefício esperado.

Com o passar dos tempos, o círculo de decisões foi estreitando-se, e as conseqüências das mesmas foi ficando cada vez maior. Assim, pequenos grupos podem tomar decisões que atinjam grande parcela da população. Isto ocorre porque, apesar de haver limites para o exercício do poder, jamais estes limites foram tão amplos, em virtude da ampliação dos meios de poder. E, caso as estruturas modernas não ofereçam apoio à elite, esta pode destruir tais estruturas e criar outras novas no lugar, desde que atendam seus objetivos.


Dúvidas? Entre em contato para debatermos o tema.

Um abraço a todos e até a próxima!

Prof. Matheus Passos

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