Primeiro Lula defendeu Sarney. Disse que não se poderia crucificar o senador porque o mesmo prestou relevantes serviços para a democracia brasileira. Na visão de Lula, Sarney não poderia ser julgado como um “homem comum” (como se, em uma democracia, existisse distinções sociais, como na França do século XVIII. Vivemos em uma democracia? Ops! Fujo do tema central.). Pressionou sutilmente o Ministério Público ao afirmar que se deve ter cuidado com a biografia daqueles que são investigados por esta instituição. Disse ainda que “uma coisa é roubar e matar, outra é nomear parentes”. Em resumo: defendeu aguerridamente Sarney no último mês e meio porque Sarney representa, na ótica de Lula, o controle do Senado, o controle do Congresso Nacional e o controle do PMDB, partido fundamental para que Lula entre para a História como o presidente que mais aprovação popular teve e como o presidente que efetivamente conseguiu fazer seu sucessor – algo inédito na Nova República (preocupações em entrar para a História como aquele que fez o Brasil dar efetivo salto social? Aparentemente, nenhuma.).
… E “de repente” no último dia 30/07/09 Lula vem a público dizer que o problema não é dele. E “de repente” Lula vem a público e diz que a responsabilidade por tudo de ruim que tem acontecido no poder Legislativo brasileiro não é dele, e sim dos membros deste próprio poder Legislativo. E “de repente” Lula quer se afastar do problema com o argumento mais simplório que ele poderia criar: “Não é problema meu. Eu não votei para eleger Sarney presidente do Senado, nem votei para ele ser senador no Maranhão, nem votei no Temer, nem votei no Arthur Virgílio, não votei para ninguém. Votei nos senadores de São Paulo. Quem tem que decidir se ele continua presidente do Senado é o Senado, não sou eu”, afirmou Lula.
Porém, engana-se o presidente da República ao afirmar que o problema não é dele. E engana-se três vezes.
Primeiro porque foi ele que deu o aval para a eleição de Sarney. Não apenas devido aos aspectos políticos envolvidos (aliança PT-PMDB), mas devido também – talvez principalmente – a um elemento que é característico da personalidade de Lula: a gratidão. É conhecido tal traço do presidente, e sabe-se que sempre que pode, age com extrema gratidão junto àqueles que o ajudaram no passado.
Segundo porque foi ele que manipulou o PT para que o mesmo apoiasse a eleição de Sarney. Como afirma Lucia Hippolito em seu blog: “Lula enquadrou o PT, domesticou os movimentos sociais, transformou em peleguismo o sindicalismo brasileiro, celebrou uma aliança firme com o capital financeiro e com as camadas menos favorecidas. É imbatível.” Mas faz isso e joga a conta para seu próprio partido: ao ser questionado sobre a divisão dentro do PT em relação à permanência de Sarney no cargo, Lula respondeu: “Faz três anos que eu não participo das reuniões do partido. Vocês devem ligar para o [Ricardo] Berzoini, (presidente do PT), para saber como o partido está vendo essa divisão.”
Terceiro porque, antes de ser presidente, Lula é cidadão brasileiro, e tal situação é sim responsabilidade dele. É responsabilidade de todos aqueles que estão cansados da imoralidade que ronda a política brasileira há anos (décadas? séculos?), e que veem os políticos insatisfeitos por estes chegarem ao fundo do poço e continuarem cavando para ver se conseguem afundar ainda mais. É responsabilidade sim do mandatário do país, pois cabe a ele não apenas administrar um território, mas fazê-lo da maneira mais ética – para não dizer moral – possível. Infelizmente para nós, “meros” cidadãos, Lula não vê isso: enxerga apenas os números das pesquisas eleitorais e busca apoio – ou desiste de apoio – fundamentando-se única e exclusivamente em tais números. Triste ver que aquele que simbolizava algum tipo de mudança no cenário político brasileiro foi cooptado pelas benesses que o poder pode trazer…