Todos devem ter visto que Obama conseguiu concretizar um de seus objetivos de campanha — qual seja, concretizar a reforma do sistema de saúde norte-americano.
Devem ter visto também que a oposição já quer derrubar a proposta, questionando a legalidade da mesma — já que o pacto federativo norte-americano é bem mais descentralizado que o nosso, permitindo verdadeira autonomia das unidades federadas.
Mas a questão da reforma da saúde vai além do pacto federativo: envolve questões relacionadas à psiquê norte-americana e ao papel que o estado desempenha por lá.
Os EUA sempre seguiram a linha política do liberalismo. Isso significa dizer que os norte-americanos sempre defenderam as liberdades individuais, mesmo que isso signifique a derrota do “próximo” — eu inclusive diria que isso é parte fundamental do liberalismo, ou seja, que sem competição não pode haver desenvolvimento económico e, consequentemente, crescimento do país.
No entanto, parece-me que Obama vai além de estereótipos acadêmicos, vai além da mentalidade pequena que coloca “liberalismo” de um lado e “socialismo” do outro — e mais ainda, que coloca tais conceitos como opostos irreconciliáveis. Acredito que Obama segue a linha do bom-senso e da moralidade e/ou da ética: é moral que o país mais rico do mundo garanta apenas atendimentos gratuitos nas emergências? É bom para o país gastar uma fortuna com o atual sistema, que leva ao desperdício e não garante nada, em termos de atendimento médico, aos cidadãos?
Mais do que político, pareceme que Obama está sendo ético. E apenas por isso ele já merece algum crédito — pois fez com que o país mais rico do mundo olhasse para seu próprio umbigo, reconhecesse que tem um grave problema e que mostre que, quando quer, é capaz de correr atrás para solucioná-lo — e é aí que reside a verdadeira grandeza do país.