O Globo
O mais recente estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre o andamento das obras em aeroportos vitais para o sucesso da Copa no Brasil, por estarem em cidades-sede do torneio, confirma um sério problema, anunciado há tempos.
Dos 13 terminais, nove não estarão prontos em 2014.
As melhorias projetadas para os aeroportos de Manaus, Fortaleza, Brasília, Guarulhos (São Paulo), Salvador, Campinas e Cuiabá só estarão concluídas em 2017, três anos depois da Copa e um após as Olimpíadas do Rio. (Preparem-se para dissabores, turistas olímpicos interessados em conhecer outras regiões do país.)
Os dois restantes — Confins, de Belo Horizonte; e o de Porto Alegre — estarão prontos em 2016. Conclui-se: como foi dito e repetido, a estatal Infraero não tinha condições de executar o projeto Copa. E não teve mesmo.
O próprio trabalho do Ipea, um órgão oficial, afirma ser necessário um “choque de gestão” para a empresa tocar investimentos com eficiência. É o que tenta agora — tardiamente, para efeito de Copa e Olimpíadas — o governo Dilma Rousseff.
Para aplicar os R$ 5,6 bilhões previstos para daqui a 2014, a empresa teria de investir, por ano, R$ 1,4 bilhão, o triplo do que tem gasto em média nos últimos oito anos, segundo o Ipea.
Os números são cabais: a meta não será, de fato, alcançada pela estatal.
Na esteira da repercussão da notícia, vieram as declarações de praxe. Para o ministro Wagner Bittencourt de Oliveira, da recém-criada Secretaria de Aviação Civil, à qual a Infraero está subordinada, as obras estão no “cronograma adequado”.
Qualquer um é livre para falar o que bem entender, mesmo diante de números irrefutáveis e de fonte insuspeita.
Uma alternativa será alterar normas para licitações públicas e controles, a fim de acelerar as obras. Apressar a tramitação de projetos e a execução de obras públicas não é um mal em si, pois há muita burocracia a eliminar.
Também, em princípio, é correta a tese de que, em vez de o Tribunal de Contas paralisar obras, que se punam os responsáveis pelas irregularidades.
Mas o grande problema é que, no Brasil, quando se defende “flexibilizar” para “agilizar” investimentos públicos, quase sempre se beneficiam esquemas de corrupção via superfaturamento de despesas, manipulação nas especificações de materiais, entre outros golpes.
Chega-se a suspeitar que atrasos são programados para se “flexibilizar” e “agilizar”.
Desde o governo Lula, alerta-se que, sem a privatização de aeroportos, o setor não acompanharia a expansão da demanda, como não acompanhou. Durante todo o segundo mandato do presidente o sistema aeroportuário brasileiro confirmou o diagnóstico.
Porém, preconceitos ideológicos existentes em Brasília contra a iniciativa privada barraram qualquer movimento mais sério para a concessão de terminais, existentes ou a construir. Juntaram-se aos estatistas os clientelistas de sempre, interessados em não perder influência na Infraero e os correspondentes benefícios pecuniários.
O estudo do Ipea acaba com qualquer dúvida sobre a imperiosidade da participação de capitais privados no sistema.
Pelo menos a presidente Dilma, avessa às licitações quando na Casa Civil, já demonstrara ter mudado de opinião. Agora, está claro para todos que o tempo corre contra.
(Original aqui.)