A sensação de desconforto sentida há tanto tempo ainda permanece quando as lembranças vêm à mente. Para aqueles que acreditam, seria possível dizer que percebe-se claramente algum tipo de “energia negativa” que envolve o ambiente. Inesquecível também, sem dúvida, a mistura de uma série de sentimentos – tristeza, consternação, revolta, piedade.
Ontem, 27 de janeiro de 2015, foram comemorados os 70 anos da libertação do campo de extermínio de Auschwitz. O campo, localizado próximo à cidade de Cracóvia, no sul da Polônia, é considerado como um dos principais símbolos do Holocausto, já que se considera que aproximadamente um milhão e trezentas mil pessoas lá morreram.
No final de 2008 e início de 2009 tive a felicidade de realizar uma viagem à Alemanha, à Polônia e à Rússia, e no meu roteiro, dentre outras coisas, estava a visita a campos de concentração e de extermínio. Visitei o campo de Dachau, perto de Munique, no sul da Alemanha, e também o de Sachsenhausen, perto de Berlim. E é claro que não podia deixar de visitar também o de Auschwitz. E digo a vocês apenas isso: uma coisa é ler nos livros, e outra – completamente diferente – é ver o lugar com seus próprios olhos e “sentir” a situação descrita nos livros.
Não irei aqui falar de Dachau ou de Sachsenhausen; quem quiser saber mais, é só dar uma olhadinha no meu blog antigo (Dachau; Sachsenhausen). O foco aqui é Auschwitz.
Falar do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau é difícil. A dificuldade advém não apenas do aspecto numérico das mortes – estima-se que entre 1,1 e 1,6 milhão de pessoas morreram lá em cinco anos, 90% deles judeus -, mas também – e, acredito, principalmente – pela questão histórico-religiosa envolvida com o campo: Auschwitz é “o” campo de extermínio, mais do que qualquer outro campo.
Como informações básicas, basta dizer que Auschwitz-Birkenau foi o maior dos campos de extermínio e de concentração da Alemanha nazista. Situava-se na Polônia, perto da cidade de Oswiecim – cidade cujo nome, em alemão, é Auschwitz. Já a palavra Birkenau é o alemão para Brzezinka, outra cidade próxima que foi completamente destruída pelos nazistas para a implantação do campo. As mortes foram causadas majoritariamente pelo gás Zyklon-B, mas também por fome deliberada, trabalhos forçados, falta de controle de doenças, execuções e “experimentos” médicos.
Os três principais campos eram Auschwitz I, II e III. Auschwitz I, o campo de concentração original, servia como o centro administrativo de todo o complexo, e foi o lugar da morte de aproximadamente 100.000 pessoas, a maioria poloneses e prisioneiros de guerra soviéticos. Auschwitz II (Birkenau) foi o maior de todos os campos de extermínio nazistas, no qual morreram no mínimo um milhão de judeus, 80.000 poloneses e aproximadamente 20.000 Roma (ciganos). Auschwitz III (Monowitz) serviu como um campo de trabalhos forçados para a fábrica Buna-Werke, pertencente ao grupo IG Farben. Além destes três principais, havia ainda por volta de 40 campos satélites, com populações variando de dezenas a milhares de presos. Como todos os campos nazistas, os de Auschwitz eram operados pelo braço paramilitar do Partido Nazista, as SS.
Auschwitz I
[youtube=http://youtu.be/li8GR1I7dTc]
Vídeo feito na entrada de Auschwitz I
Auschwitz I era o centro administrativo de todo o complexo, aberto em 20 de maio de 1940. Os primeiros prisioneiros do campo foram 728 políticos poloneses de Tarnów. Inicialmente, o campo foi utilizado para aprisionar intelectuais e membros da resistência poloneses. Posteriormente foram levados para lá também prisioneiros de guerra da União Soviética, prisioneiros comuns alemães, elementos anti-sociais e homossexuais. No primeiro momento chegaram também prisioneiros judeus. Geralmente o campo abrigava entre treze e dezesseis mil prisioneiros, alcançando a quantidade de vinte mil em 1942. Os prisioneiros do campo saíam para trabalhar durante o dia nas construções do campo, com música de marcha tocada por uma orquestra.
As SS geralmente selecionavam prisioneiros, chamados kapos, para fiscalizar os restantes. Todos os prisioneiros do campo realizavam trabalhos e, exceto nas fábricas de armas, o domingo era reservado para limpeza com duchas e não havia trabalho. As severas condições de trabalho unidas à desnutrição e pouca higiene faziam com que a taxa de mortalidade entre os prisioneiros fosse muito elevada.
O bloco 11 de Auschwitz I era a “prisão dentro da prisão”, e ali se aplicavam os castigos. Alguns deles consistiam em prendê-los por vários dias em celas demasiado pequenas para sentar-se. Outros eram executados, pendurados ou deixados sem água ou comida por vários dias, levando-os a morrerem de fome. Alguns prisioneiros eram obrigados a ficar nas “celas permanentes”: celas com aproximadamente 1,5 m² nas quais eram colocados 4 prisioneiros de cada vez. Não havia espaço para se sentar ou deitar, apenas para ficar em pé, e passavam a noite em tais celas (geralmente 3 noites seguidas). De dia tais prisioneiros eram obrigados aos trabalhos forçados juntamente com outros prisioneiros. No bloco 11 localizavam-se também as “celas da fome”: prisioneiros encarcerados em tais celas não recebiam água nem comida até morrerem.
No porão do bloco 11 situavam-se as “celas negras”: celas com apenas uma única e pequena janela vedada, por onde entrava luz – mas não ar. Os prisioneiros colocados nestas celas iam gradualmente sufocando, pois consumiam todo o oxigênio presente na cela. Às vezes guardas da SS acendiam velas nas celas, para que o oxigênio fosse consumido mais rapidamente. Muitos eram pendurados com suas mãos atrás e acima do pescoço, deslocando as juntas dos ombros. Ficavam pendurados por horas, às vezes por dias seguidos.
Em setembro de 1941, as SS realizaram no bloco 11 os primeiros testes com o gás Zyklon B, no que morreram 850 prisioneiros poloneses e russos. Os testes foram considerados bem sucedidos e em consequência foram construídos uma câmara de gás e um crematório. Essa câmara de gás foi utilizada entre 1941 e 1942, e por volta de 60.000 pessoas lá foram mortas. Posteriormente a câmara foi convertida em refúgio antiaéreo.
A primeira mulher chegou ao campo em 26 de março de 1942. Entre abril de 1943 e maio de 1944 levaram-se a cabo experimentos de esterilização em mulheres judias no bloco 10 de Auschwitz. O objetivo era o desenvolvimento de um método simples que funcionasse com uma injeção para ser utilizado na população eslava. O “doutor” Josef Mengele fez experimentos com gêmeos nesse mesmo complexo: destaca-se a experiência que pressupunha o uso de ácido nos olhos das crianças objetivando alterar a cor dos olhos. Quando um prisioneiro não se recuperava rapidamente, geralmente era executado com uma injeção letal de fenol.
Um bordel foi criado no verão de 1943 por ordens de Himmler. Estava localizado no bloco 24 e era utilizado para premiar os prisioneiros privilegiados. Os guardas selecionavam prisioneiras para este campo, mas também aceitavam voluntárias atraídas pelas melhores condições alimentícias.
Auschwitz II (Birkenau)
Auschwitz II (Birkenau) é o campo que a maior parte das pessoas conhece como Auschwitz. A construção teve início em 1941 como parte da Solução Final. O campo tinha área de 2,5 por 2 km e estava dividido em várias seções, cada uma delas separadas em campos. Os campos, como o complexo inteiro, estavam cercados e rodeados de arame farpado e cercas elétricas (alguns prisioneiros utilizaram-nas para cometer suicídio). O campo abrigou até 100.000 prisioneiros em dado momento.
[youtube=http://youtu.be/gw7FNNEj-Zs]
Campo de extermínio de Auschwitz II (Birkenau). Vídeo feito ao final da famosa linha de trem que levava os prisioneiros para o campo
O objetivo principal do campo não era o de manter prisioneiros como força de trabalho (caso de Auschwitz I e III) mas sim de exterminá-los. Para cumprir esse objetivo, equipou-se o campo com quatro câmaras de gás e seus respectivos crematórios. Cada câmara de gás podia receber até 2.500 prisioneiros por turno. O extermínio em grande escala começou na primavera de 1942. Para tanto eram realizadas “seleções”, nas quais os prisioneiros que chegavam ao campo eram separados entre aqueles considerados como aptos ao trabalho – sendo admitidos no campo – e aqueles que não eram aptos – sendo enviados diretamente para as câmaras de gás: estes correspondiam a cerca de 75% dos recém-chegados. Geralmente todas as crianças, mulheres com crianças e idosos eram enviados diretamente às câmaras.
Aqueles que eram selecionados para exterminação eram enviados a um dos grandes complexos de câmara de gás/crematório nos extremos do campo. Dois dos crematórios tinham instalações subterrâneas, uma sala para despir e uma câmara de gás com capacidade para milhares de pessoas. Para evitar o pânico, informava-se às vítimas que receberiam ali uma ducha e um tratamento desinfetante. A câmara de gás tinha inclusive tubulações para duchas, embora nunca tenham sido conectadas à rede de água. Ordenava-se às vítimas que se despissem e deixassem seus pertences no vestiário, onde supostamente poderiam recuperá-las ao final do “tratamento”, recomendando-se que recordassem o número da localização de seus pertences. Avisava-se às vítimas que seus pertences seriam enviados para o “Canadá” – termo então usado na Polônia para identificar algo valioso.
Uma vez selada a entrada, descarregava-se o agente tóxico Zyklon B pelas aberturas no teto. As câmaras de gás nos crematórios IV e V tinham instalações na superfície e o Zyklon B se introduzia por janelas especiais nas paredes. Os corpos eram levados por prisioneiros selecionados para trabalhar na operação das câmaras de gás e fornos crematórios a uma sala de fornos anexa, para cremação. Antes, porém, estes mesmos “funcionários” eram obrigados a remover todo o ouro que as vítimas pudessem ter em seus dentes. Mais de 20.000 pessoas podiam ser asfixiadas e cremadas por dia.. Mesmo assim, se a capacidade dos fornos não fosse suficiente, os corpos eram queimados em fogueiras ao ar livre.
Os que eram considerados aptos para o trabalho eram usados como escravos em todas as indústrias que forneciam os produtos para os campos, tais como IG Farben e Krupp. No complexo de Auschwitz, 405.000 prisioneiros foram registrados como escravos entre 1940 e 1945; destes, certa de 340.000 morreram devido a execuções, surras, fome e doenças.
O período de maior atividade do campo de Auschwitz-Birkenau foi entre abril e junho de 1944, quando o campo se tornou o centro do massacre dos judeus húngaros. A Hungria era uma aliada da Alemanha durante a guerra, mas resistiu e não enviou seus judeus para a Alemanha até que os nazistas enviaram tropas para ocupar a Hungria em março de 1944. Em 56 dias, estima-se que 436.000 judeus húngaros foram deportados para Auschwitz e mortos.
(Obs.: as informações estatísticas da postagem, por serem de conhecimento comum, foram retiradas da Wikipédia. Já as fotos e o restante do texto são de minha própria autoria.)
Belíssima matéria Matheus. Posso imaginar o que é estar visitando um local desse. Quanta atrocidade cometida com o ser humano, em especial os Judeus. Só em ver as fotos e os comentários, pode-se ter uma ínfima, mas clara noção do sofrimento daquele povo. E agora, em pleno século XXI, vemos alguns muçulmanos radicais, transvestidos de nazistas, como por exemplo, o que vem tomando espaço nos noticiários nacionais e internacionais, qual seja , o estado islâmico (O estado ai está com letra miníúscula de propósito, pois não considero essa aberração um Estado)
É meu caro Jaziel, é complicado. E muitas vezes me questiono, do mesmo jeito que falei para o Djalma no outro comentário, como se permitiu isso lá atrás e como se permite hoje, com uma leniência cada vez maior, que me assusta. Espero que não tenhamos outro Holocausto!
Muito triste,nao sei como o mundo permitiu isso.
Pergunto-me isso até hoje, Djalma! Especialmente pelo fato de ver algumas coisas acontecendo e que – Deus o livre! – podem levar à repetição do que já aconteceu, se não de maneira explícita, o que acho difícil, mas de maneira acobertada. Um exemplo simples: muitos, em nome de “mais segurança”, aceitam abrir mão de direitos fundamentais, especialmente no âmbito das liberdades… E isso é preocupante. Um abraço!
O que ainda nos conforta é o saber que Hitler queima no inferno.
O ruim é saber que há muitos que ainda o cultuam! 🙁
O bom é ficar calado para os 100 milhões de pessoas pelos bandidos comunistas no Gulag! Etá “professorzinho” de Coxinha Marxista!
Nossa professor, que terrível! Mas não entendo porque preservar esse lugar de tristeza e tortura. Temos que conhecer a história dos antepassados, mas esse lugar é por demasiado horripilante. Na minha opinião teria que ser destruído.
Gislene, respeito, mas discordo de sua posição. Acho que o lugar tem sim de ser mantido aberto e ser divulgado ao máximo possível, buscando conscientizar as pessoas do que ocorreu para que sejam criadas formas de evitar que se repita. Se com os campos abertos há muitas pessoas que dizem que “o Holocausto não ocorreu”, imagine se essa memória tivesse sido apagada e destruída… Um abraço pra você e volte sempre!
Excelente Post meu querido! Um lugar para ser refletido e combatido todo tipo de intolerância e maldade humana! Estou muito feliz por você ter tido o privilégio de mostrar essa lado obscuro da história! Continue sendo esse excelente educador. Parabéns
Caro Vicente, obrigado pela sua presença por aqui. E obrigado também pelas palavras. Creio que seja função de todos a de alertar para o mal que nos ronda! Um abração, obrigado mais uma vez e volte sempre!
É terrível saber que quem promoveu tamanha aberração eram da nossa mesma “raça”, humano, o pior dos animais!
Pois é, Rafael… O que uma ideologia e uma propaganda bem montadas não conseguem fazer? Um abraço e obrigado pela presença!
Professor Mateus, é uma pena que no Brasil não manteve essa memória atroz. Pois por aqui estão cheio de mentes desinformadas defendendo o retorno da ditadura de 64. A história deve sempre ser lembrada para que essas aberrações não venham a se repetir.
Edson, concordo plenamente com você. É triste ver (tanta) gente defendendo a volta de uma ditadura, que pode até nem ter sido tão brutal em termos numericamente frios quanto o Holocausto, mas que foi com certeza brutal para aqueles que sofreram com ela. Um abraço!
Esse “professor” Passos, deveria mostrar como os assassinos comunistas judeus como Lênin, Trotsky, Yagoda, Frenkel, Kaganovich, Maiski, Beria e outros assassinos comunas judeus mataram 100 milhões de pessoas no GULAG e Sibéria! Ate os próprios judeus mentirosos mentiam o mundo todo de 1945 até 1990, que em Auschwitz os alemães mataram 4 milhões de judeus, agora desde 1990 dizem que foram só um milhão e trezentos mil! Vão pra o inferno junto com esse burro “professor” portuga que é ignorante ou esconde os crimes do comunismo judeu!
Olá, bom dia! Agradeço pelo seu comentário, apesar de não ter entendido seu ponto de vista. Você parece querer entrar naquela “competição macabra” de quem matou mais. Este com certeza não foi o objetivo desta postagem. Como está claro pelo título e pelo conteúdo, eu quis relatar minha visita a um campo de extermínio, ponto final. Se você procurar bem — em vez de gastar seu tempo ofendendo a mim — verá, aqui no site, postagens acerca de minhas viagens à Rússia e minhas críticas ao regime comunista, especialmente no tempo de Stálin. Por fim, mas retomando o que falei no início, acredito que não deva haver nenhuma “competição” entre qual regime matou mais, se o regime X ou regime Y. Se um regime, qualquer que seja, mata alguém, parece-me que já não é tão bom quando aparenta (ou quer) ser. Lembre-se do que Gandhi já havia dito há tempos: “olho por olho e o mundo acabará cego”. Um abraço e volte sempre — mas, se for possível, com comentários não ofensivos a mim e aos demais que visitam meu site. 🙂
O professor não respondeu nada. Normal que vou na “competição macabra”, porque uma coisa e você matar mais de 90 milhões de pessoas no Gulag, e outra e você matar 300 mil judeus conforme a Cruz Vermelha Internacional! Não sejamos hipócritas holocau$tizados!
Como disse antes, fico calado para aqueles que: 1) Se escondem com apelidos, em vez de darem seus nomes reais; 2) Trazem números sem indicar fontes; 3) Apelam para adjetivos (que se colocam como) depreciativos, em vez de argumentar. Mas você será sempre bem vindo ao meu site, desde que mantenha o respeito. Um abraço!
Nunca vamos esquecer os 90 milhões de mortos no Gulag comunista pelos assassinos comunistas judeus Lênin, Trotsky, Frankel, Kaganovich, Yagoda, Beria, Ana Pauker ect. que o “professor” Matheus esconde ou não sabe?! Também esse “professor” não sabe ou esconde que os judeus mentiram o mundo inteiro de 1945 até 1991, que em Auschwitz, os alemães “mataram 4 milhões de judeus”, agora desde 1991, dizem que foram um milhão e meio! E isso ai, “professor” Matheus, as mentiras tem pernas curtas e vão se encurtando cada vez mais!
Olá! Não irei polemizar contigo, porque sei que você só quer causar confusão. Apenas digo que meu objetivo aqui foi falar de Auschwitz, e não de outros crimes cometidos por outros grupos. Além disso, parece-me que o fato de um grupo ter cometido crimes não dá a outros o direito de cometê-los também. De todo jeito, obrigado por ter visitado meu site. Volte sempre! Um abraço.