Por Márcio Morais
Já falei aqui e nada me faz pensar diferente: um post meu vai atingir no máximo 30 a 35 amigos e colegas, não me vendo como um guru, um intelectual ou um sabichão. Sou só um cara com acesso à internet. E, também por isto, nós precisamos falar de estupro. Como “normais”, despidos de qualquer hipocrisia, como homens comuns.
Ontem foi divulgado um vídeo que depois se soube se tratar de um estupro coletivo, 30 homens estupraram uma garota de 16 anos.
Vamos por partes:
1) não foram 30 doentes, não foram 30 bandidos, não foram 30 qualquer descaracterização que você queira… Foram 30 homens, comuns, como eu e como você. Tentar tirar deles a humanidade para que nos sintamos menos enojados não é um bom artifício;
2) não, não, NÃO, a garota de 16 anos não tem culpa! Tentar colocar na frase coisas como “porque ela estava lá”, “ela já tinha um filho de 3 anos”, “se estivesse em casa não teria acontecido” só demonstra que nós realmente precisamos conversar;
3) piadas como “ela deu sorte”, “deve ter gostado”, e todas as outras que nos contaram quando ainda éramos bem novos estão erradas. Se você acha que a “patrulha do politicamente correto não nos deixa em paz”, “que o mamonas assassinas não fariam sucesso hoje nesse mundo doente” e que “os trapalhões faziam essas piadas e nem por isso eu ando estuporando por aí”, meu querido, nós precisamos conversar;
4) se você acha que feminismo é perda de tempo, se acha que a população engordou porque a mulher decidiu cuidar dela em vez do marido, se acha que um cara falar que uma mulher não merece ser estuprada pelo fato de ser feia, nós, definitivamente, precisamos conversar;
5) se você tem orgulho de ser hétero (e sempre falo isso, orgulho pressupõe conquista, logo, se você está orgulhosão por ser hetero, de certo estava difícil não se entregar nos braços do homem amado, e por não se entregar você deve ter orgulho), se acha que homem tem que ter pegada, que mulher gosta de homem que joga na parede e chama de lagartixa, por certo, precisamos conversar;
6) se você já preparou um drink no abacaxi que deixava “as mina loka” e depois para pegar era fácil, cara, porque a gente ainda não sentou para conversar;
Poderia ficar aqui listando tantos motivos para que a gente sentasse um dia, mas, te digo às claras. Ser menos inteligente tem cura e eu sou um exemplo disso. Já ri das piadas, já perguntei o tamanho da saia da vítima, a hora que aconteceu… Cara, eu já fui um imbecil, mas com ajuda eu consegui me reavaliar.
Talvez você não me conheça tão bem. Na minha profissão eu ocupo um cargo liderança, lá a regra é bem simples: na minha equipe mulher não passa mais aperto dos que o mundo já se encarrega. No primeiro dia de trabalho eu prometo a todas que na minha sala elas sempre serão respeitadas, quando elas virarem para sair ninguém vai ficar olhando, não vai ter piada, não vai ter cantada travestida de elogio, elas não vão ouvir piadas sobre inteligência, capacidade ou guerra dos sexos.
Na minha casa eu e minha esposa nos esforçamos para não julgar. Na minha casa não falamos que mulher que apanha do marido e não larga é porque gosta. Aprendemos que vida é mais complexa que nossa opinião.
E é por isso que precisamos falar de estupro. Precisamos falar que todos os nossos comentários, piadas, olhares, cantadas, não são bons. São idiotas.
Precisamos nos desculpar. Nossa cultura machista incentiva atos como esse.
Precisamos dar a cara a tapa.
Precisamos entender que foram 30 homens.
E eu, como homem, gostaria de conversar…
Mas, mais do que isso, gostaria de pedir desculpas aquela garota de 16 anos… E a todas as outras.
Desculpe.