Eleições na França e a democracia contemporânea


Olá pessoal! Quero fazer alguns pequenos apontamentos acerca da relação que vejo entre as eleições na França e a democracia contemporânea.

O objetivo não é falar sobre o conceito de democracia em si. Se você quer saber um pouco mais sobre isso, basta clicar aqui para assistir às minhas aulas no YouTube sobre o tema. Em vez disso, vou explicar o porquê de eu ter torcido para a vitória de Macron e não da Le Pen.

O motivo é simples: qual dos dois se apresenta como mais democrático? Qual dos dois é (ou parece ser) mais favorável ao valor da democracia?

Para mim não há dúvidas de que Macron está mais próximo desse ideal democrático do que Le Pen. E isto por um motivo simples: ele ouve o outro – ou, ao menos, parece ouvir.

Ora, não se pode compreender a democracia como a mera realização de eleições periódicas. Ou, acresça-se a isso, à existência de partidos disputando o poder. Se assim o fosse, o regime militar brasileiro poderia ser considerado como democrático.

Também acredito ser plausível acreditar que a democracia vai além da ideia de liberdade de expressão. Sem dúvida que é uma condição necessária, mas não suficiente para a existência do valor democrático em determinada sociedade.

Vejam a diferença: uma coisa é a existência de regras democráticas, e outra coisa é a presença de valores democráticos. Como eu disse acima, quase todas as ditaduras possuem regras democráticas, mas não os valores.

E é neste sentido que acredito que Macron está mais próximo dos valores democráticos do que Le Pen. E digo isto porque a proposta dele é de integração e de aproximação com o outro, enquanto que a proposta de Le Pen é forjada na ideia de separação e de distanciamento. Enquanto ele pressupõe uma Europa unida que acolhe refugiados, por exemplo, ela defende uma França “soberana” em que os “indesejados” deverão ficar do lado de fora da “festa”.

Ora, uma pessoa democrática necessariamente (digo eu) precisa acolher o outro. E este acolhimento não deve (necessariamente) ser entendido como (apenas) apoio financeiro. O acolhimento se dá, mais que isso, no reconhecimento de que o outro tem direito a ter direitos, assim como eu os tenho (adaptando aqui a frase de Hannah Arendt).

E é nessa perspectiva que Le Pen, para mim, não se aproxima dos valores democráticos. Ao defender (implícita ou explicitamente) a exclusão de inúmeros grupos, o que ela faz é se afastar de tais valores, como se a democracia só pudesse ser realizada no âmbito de um grupinho – definido, é claro, por ela mesma e por aqueles que estão ao seu redor.

É claro que precisamos refletir acerca do quão democráticos somos nós mesmos (já escrevi sobre isso aqui). E é nesse sentido que Macron é – ou, repito, ao menos parece ser – mais democrático que Le Pen. Ao propor uma política integracionista que visa ao fortalecimento de inúmeros laços sociais, seja internos ou externos à França, o presidente eleito dá um passo em direção ao fortalecimento desses valores democráticos.

E você, o que acha disso tudo? Qual sua opinião em relação às eleições na França e a democracia contemporânea? Deixe logo abaixo seus comentários ou, se preferir, entre em contato diretamente.

Então é isso, pessoal. Um abraço a todos e até a próxima!

Prof. Matheus Passos

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