Ontem postei aqui uma reflexão dizendo que a arte imita a vida. Coincidentemente, hoje vejo a necessidade de falar o contrário: que às vezes a vida imita a arte.
Deparei-me hoje com um vídeo de um vereador de Recife fazendo a leitura das atas das sessões da Câmara de Vereadores. Confiram abaixo (mas desconsiderem a legenda do vídeo, bem como a vinheta final):
https://www.facebook.com/mblivre/videos/605687512888729/
É incrível. Uma pessoa eleita para um cargo público com o objetivo de desempenhar um papel fundamental à sociedade age desta forma. Algo está mesmo errado. E sinceramente, não acredito que esteja errado apenas na estrutura política, mas sim na própria postura ética da pessoa. Desculpe-me, caro vereador, mas sua postura não condiz com o cargo que o Senhor ocupa.
Mas ainda há mais. Para além da leitura embolada, que claramente vai contra os princípios da moralidade e da publicidade previstos no art. 37 da Constituição, há ainda a cereja do bolo. É a palavra aprovado durante a leitura. Digo que é a cereja do bolo não por aprovarem a toque de caixa – parece-me que, como são leituras de atas, aquilo que está sendo lido [sic] já foi aprovado. Mas chama a atenção a ênfase que o vereador coloca na palavra aprovado. Por quê não colocou a mesma ênfase nas demais palavras? Ou, melhor ainda: por que não leu efetivamente as atas? Falta de tempo? Falta de interesse? Sinceramente, não compreendo.
Como disse acima, é a vida imitando a arte. Nesta última vê-se todo tipo de manobra política para a manutenção do poder político, mas sabe-se que é uma representação. Mas quando a gente vê isso na primeira, a coisa complica um pouco, pois não estamos aqui falando de algo hipotético ou recreativo, mas sim de uma atividade que tem impacto direto na vida dos cidadãos. E aí vale lembrar novamente outro princípio do art. 37 da Constituição, que é o da eficiência. O servidor público precisa ser eficiente, já que – repito – suas ações têm impacto direto na vida dos cidadãos. E não me parece que uma leitura embolada de atas legislativas seja algo realmente eficiente na perspectiva da sociedade como um todo.
E você, o que pensa sobre o assunto? Deixe abaixo seus comentários ou entre em contato para debatermos o tema.
Então é isso pessoal. Um abraço a todos e até a próxima.
Prof. Matheus Passos
Quem era o público presente na ‘audição’? Quem mais assistiu o vídeo e se interessou pelo texto da ata ‘embolada’? Quais leituras de atas de outras câmaras foram divulgadas…? É possível que cenas assim se repitam por todo o país quando a leitura é exigida por qualquer motivo. Acredito que via de regra as reuniões comecem com alguma variação da fórmula “todos a favor da dispensa de leitura da ata digam ‘sim’ “…
Concordo! Em quantas outras Câmaras de Vereadores não tão “vigiadas” como as das capitais isso não ocorre? Triste 🙁