A política como vocação


Atendendo a alguns pedidos, republico logo abaixo um pequeno resumo do livro A política como vocação, de Max Weber. Vale a pena a leitura!


Maximillian Karl Emil Weber (Erfurt, 21 de Abril de 1864; Munique, 14 de Junho de 1920) foi um intelectual alemão, jurista, economista e considerado um dos fundadores da Sociologia. De importância extrema, Max Weber escreveu o livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, um um ensaio fundamental sobre as religiões e a afluência dos seus seguidores.

A política como vocação

Significante, também, é o ensaio de Weber sobre “a política como vocação”. Weber defende em tal texto a definição de estado que se tornou essencial no pensamento da sociedade ocidental. Para ele estado é a entidade que possui o monopólio do uso legítimo da ação coercitiva. A política deverá ser entendida como qualquer atividade em que o estado tome parte. Especialmente aquelas que resultem na distribuição relativa da força.

Para Weber, o estado é definido a partir do seu meio de existência, que é a coação física. O estado é, portanto, a única fonte do “direito” à violência. A política será então o conjunto de esforços visando à participação do poder ou à influência na divisão desse poder, seja entre estados, seja no interior de um único estado.

O estado é uma relação de dominação de um homem sobre outro homem. Esta dominação é legitimada através de três idéias puras. A primeira é a que diz que um homem admite ser dominado por outro devido à tradição e aos costumes; a segunda baseia-se no carisma do dominador, ou seja, em características especiais como devoção e confiança nesta pessoa; por fim, a terceira idéia de dominação é fundada na idéia de crença na validez de um estatuto legal.



Dentre estas três idéias, a que mais nos serve para explicar a vocação para a política é a segunda. É o carisma interior de um chefe ou profeta que faz com que outros homens sigam-no. Não por obediência ou por costume, mas pela fé. E, caso este líder esteja realmente comprometido, irá viver para seu trabalho e realizará uma grande obra. Contudo, não é apenas este homem que define o processo político; antes, é necessário verificar a natureza dos meios de ação destes homens políticos.

A dominação depende de um estado-maior administrativo — que irá garantir que as atividades desenvolvidas pelos dominados estejam de acordo com a vontade do dominador — e também dos meios materiais de gestão. Este estado-maior administrativo não irá obedecer ao chefe apenas pelas questões de legitimidade acima citadas. Interesses pessoais influenciam esta dominação. O temor de perder estas recompensas é o que liga o estado-maior administrativo aos detentores do poder.

O estado é um agrupamento de dominação de caráter institucional que monopoliza, no seu território, o uso legítimo da violência física como instrumento de domínio e que reúne, nas mãos do seu dirigente, os meios materiais de gestão.

Em geral fazem-se as duas coisas: vive-se da e para a política. Quem vive “para” a política transforma-a em fim de sua vida, ou seja, trabalha para a política seja porque gosta do poder, seja porque encontra um equilíbrio pessoal em favor de uma “causa” que dá significado à sua vida. A diferença principal é o aspecto econômico. Supõe-se que quem vive para a política já está estabilizado financeiramente. Aquele que depende da remuneração pelos seus trabalhos vive da política e aquele que não depende vive para a política.



O desenvolvimento da função pública exige um corpo de funcionários altamente capacitados. Em princípio, o corpo de conselheiros estava sob a égide do príncipe, mas foi aí que começaram a surgir as propostas, contrapropostas e votações em relação aos assuntos políticos pertinentes ao reino.

Com o surgimento do parlamento, este estado de coisas alterou-se. Os funcionários especializados e o príncipe, que de certa forma lutavam entre si pela dominação do poder, uniram-se contra o parlamento, que tinha por objetivo obter o poder. Em alguns países, como na Grã-Bretanha, o Parlamento conseguiu seu objetivo e ascendeu ao poder. O líder do partido dominante tornava-se o chefe do gabinete. Já nos Estados Unidos o chefe supremo é escolhido através de sufrágio universal e direto, e é este chefe quem nomeia todo o conjunto de funcionários; neste caso, depende do Parlamento apenas para assuntos relativos a orçamento e legislação.

Ao longo do processo de monopólio empreendido pelo estado moderno surgiu uma nova categoria: a dos “políticos profissionais”. Eram pessoas dispostas não a ser senhores, mas sim a influenciar estes mesmos senhores.

Os chamados funcionários “políticos” caracterizam-se pela sua disponibilidade, ou seja, pode-se deslocá-los à vontade. Já os funcionários de carreira não podem ser movidos. Outro aspecto do funcionário político é que ele pode perder seu emprego quando da mudança da maioria parlamentar, ou na mudança de um governo a outro.



O funcionário político não deve fazer política: deve administrar de forma não partidária, deixando a política, o tomar partido, a luta e a paixão para o homem político, o chefe político. A este cabe responsabilizar-se pessoalmente pelo que faz. Isto é o que garantirá a eficácia política.

Os partidos têm doutrinas políticas. Esse quadro lega aos políticos profissionais o não aproveitamento de seus talentos e liderança. Os partidos são comandados pelos homens de importância, que não admitem aqueles que tem características de chefe.

Weber diz ainda que aquele que precise viver “da” política não encontrará outra saída senão a do jornalismo e encargos burocráticos nos partidos. Outra opção é tentar conseguir um posto em uma associação que se encarregue da defesa de certos interesses, tais como sindicatos, câmaras de comércio, etc.

Para aqueles que desejam seguir a carreira política e são bem sucedidos existem certas alegrias. A primeira delas é o sentimento de poder. A consciência de influir sobre outros seres humanos e de saber que tem nas mãos um importante instrumento modificador da história pode elevar o político profissional acima da banalidade da vida cotidiana.



Existem três qualidades que determinam o homem político: a paixão, o sentimento de responsabilidade e o senso de proporção. A paixão não deve ser entendida como algo sem pensar. Em vez disso, é como uma vontade muito grande de trabalhar por uma causa mas com consciência e responsabilidade do que se está fazendo. O homem político não pode tornar-se vaidoso. A vaidade faz com que o homem político coloque-se acima de sua causa. Em consequência ele não terá sentimento de responsabilidade – ou então, perderá o objetivo da sua causa.

Existem dois tipos distintos e opostos de ética: a ética da convicção e a ética da responsabilidade. O primeiro tipo baseia-se no fato de que o indivíduo toma suas atitudes e a responsabilidade destas atitudes não está no agente, mas sim no mundo, na tolice das outras pessoas, ou até na vontade de Deus. Já o segundo tipo diz que o agente é responsável pelos seus atos, ou seja, caso o que o agente fizer der errado, o agente será o responsável.

Um aspecto em comum é que vemo-nos compelidos a recorrer a meios desonestos, ou pelo menos perigosos, para atingirmos fins “bons”. Este meio desonesto ou perigoso da ética em relação à política é a violência. Por isto, parecer-nos-ia que é o problema da justificação dos meios pelo fim que colocaria em cheque a ética da convicção. Isto pode ser explicado da seguinte maneira: para acabarmos com a violência e instaurarmos a paz, utilizamo-nos de mais violência.


O que você pensa sobre o texto? Acredita que o mesmo pode se aplicar à situação do Brasil atual? Deixe abaixo seus comentários ou entre em contato diretamente comigo.

Um abraço a todos e até a próxima!

Prof. Matheus Passos

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