O nível de ataques nesta eleição presidencial é o mais elevado desde a volta do Brasil à democracia. Alguns acham que em 1989 foi ainda pior. Pode ser, mas há um problema nessa comparação: aquela eleição era disputada com regras menos rígidas como as atuais e nenhum dos dois candidatos (Collor e Lula) concorria à reeleição.
Hoje, as normas esdrúxulas de campanha são quase um incentivo para os políticos se atacarem. Nada mais. Os programas de TV e de rádio e os debates entre os candidatos são todos cabeados para dar errado. Parecem aquele imóvel antigo cuja fiação não tem mais jeito: todos os cabos precisam ser trocados e realinhados para evitar um curto-circuito.
Os programas de rádio e de TV são uma inutilidade completa quando se trata de permitir que os candidatos apresentem, de maneira alentada e inteligente, alguma proposta real sobre como governar o país. No caso dos que concorrem a deputado, a coisa piora – o eleitor assiste a um desfile de personagens que parecem saídos de um trem fantasma. Só gritam seus nomes na tela.
Os debates poderiam oferecer um pouco de oxigênio, mas o engessamento imposto pelos candidatos impede que isso ocorra. Por que duas pessoas que pretendem ocupar a cadeira de presidente da República são incapazes de se sentarem por uma hora para conversar, sem que cada pergunta tenha de durar um minuto? Resposta: porque os marqueteiros treinam os políticos para falar nesse tempo bem definido. Se a conversa for livre, eles ficam perdidos.
A Folha ouviu essa explicação das campanhas de Dilma Rousseff e de Aécio Neves. Ambos se recusaram a fazer um encontro com regras livres e abertas, num debate mais adulto e com alguma inteligência.
O que sobra então numa campanha tão disputada, cujas regras são feitas para impedir o debate? Ocupar os espaços que restam com aspersão de lama para destruir o adversário.
(Original aqui.)