Na minha postagem sobre a possibilidade (ou não) de mudanças no Brasil, terminei deixando implícita minha opinião, qual seja, a de que mudanças em nosso país devem se originar muito mais dos próprios cidadãos do que das instituições e/ou daqueles que atualmente as ocupam.
A seguir apresento um texto de autoria de Daniel Sampaio a respeito da situação em Portugal. O interessante é que, apesar de o articulista se referir a este país (Portugal), tenho a certeza de que suas ideias caem “como uma luva” à situação brasileira atual. Da mesma forma que o autor se refere a Portugal, creio que a mudança do Brasil pelas mãos dos cidadãos passa por estes adquirirem realmente sua cidadania, no sentido de atividade cívica para o bem coletivo. Sem isso não há como mudar nosso país. É como diz o autor:
Uma sociedade moderna e motivadora exige que os cidadãos exerçam a sua responsabilidade social e sejam capazes de reconhecer as necessidades dos outros, sem o qual o individualismo e a falta de sensibilidade social aumentarão todos os dias.
Cidadania
Este ano há eleições e já começam a surgir os primeiros discursos dos políticos, embora tardem compromissos claros sobre o que é importante para todos nós.
A cidadania, condição de uma pessoa que, como membro de um estado, se acha no gozo de direitos que lhe permitem participar na vida política, não é muito exercida em Portugal. Em muitos casos, persiste a velha oposição entre “nós” e “eles”, na qual os políticos são sempre sentidos como diferentes dos outros cidadãos e totalmente responsáveis pelo que de mal acontece. Decisões recentes no âmbito da justiça estão a dar ao cidadão comum a ideia de que a justiça está finalmente a não distinguir entre ricos e pobres: é assim que muita gente saúda a aparente maior firmeza e isenção dos magistrados, embora ainda seja cedo para concluirmos se os processos mais mediáticos conduzirão a sentenças justas e respeitadoras das provas encontradas.
No quotidiano da escola e da família, a cidadania precisa de ser incentivada. Nos estabelecimentos de ensino, essas matérias são agora consideradas secundárias, porque houve a preocupação recente de tudo reduzir às disciplinas ditas “fundamentais” ou “estruturantes”, com os resultados que estão à vista: a indisciplina aumenta todos os dias, abundam os resultados medíocres e a desmotivação de alunos e professores é a regra.
Precisamos de exigir aos políticos menos decisões de “cima para baixo”, sustentadas em legislações complexas e difíceis de entender. É necessário demonstrar que excesso legislativo diminui a iniciativa e encoraja a ideia de fazer o mínimo, sem preocupação com o serviço em causa e sem entusiasmo em fazer melhor. A verdade é que uma sociedade moderna e motivadora exige que os cidadãos exerçam a sua responsabilidade social e sejam capazes de reconhecer as necessidades dos outros, sem o qual o individualismo e a falta de sensibilidade social aumentarão todos os dias.
A responsabilidade social começa a formar-se na infância, através do relacionamento das crianças com os adultos em seu redor. A capacidade de reconhecer os limites do seu comportamento e as necessidades dos outros é uma meta essencial da educação dos mais novos, a iniciar na família desde os primeiros anos e a continuar na escola. Para uma sociedade se desenvolver com justiça e equidade, as soluções obtidas pelo controlo externo (por exemplo, através do sistema legal) têm de estar equilibradas com as decisões dos indivíduos e dos seus grupos, tendo em conta as suas aspirações e o necessário controlo interno. Os políticos que tiveram êxito foram justamente aqueles que foram capazes de conseguir esse justo equilíbrio.
As causas dos comportamentos antissociais, contrários a uma cidadania activa e responsável, devem ser combatidas desde muito cedo. Muitos dos jovens delinquentes provêm de famílias onde a desagregação, a violência e o abandono das crianças criaram o contexto propício à continuação desses comportamentos desajustados, sem que tivessem surgido iniciativas impeditivas dessas trajectórias.
Para evitar essa evolução negativa, é preciso introduzir programas de educação e apoio aos pais, acções de formação junto de educadores e professores, medidas concretas de incentivo às propostas inovadoras das famílias e, sobretudo, veicular mensagens de responsabilização individual em todos os sectores. Estas iniciativas custam dinheiro à partida, mas poupam a longo prazo, facto muitas vezes esquecido.
(Original aqui.)
Sim, também concordo com essa opinião.
Professor , acho que Portugal está a nossa frente em termos sócio-culturais,navegando pelas redes sociais,vejo no Brasil um povo sem condiçoes de participar da vida politica,ex.no face, não tem como postar uma opiniao,pois, as respostas são pra lá de ignorantes.Os politicos brasileiros ao meu ver, também, sao do mesmo nível. Obrig.
É verdade, Djalma. Daí a necessidade de se investir em educação, objetivando mudar tal situação! Um abraço!
Professor, podemos dizer que não há cidadania plena enquanto o sujeito não estiver totalmente ciente dos seus atos, para então decidir e após alcançado esse patamar, necessariamente ter um governo onde há decisões mais rápidas por parte desse povo ciente de seus atos?
Olá Tiago, bom dia! Do ponto de vista “ideal”, seria exatamente isso que você falou. Como podemos pressupor a cidadania efetiva se o cidadão não tem noção do que ele está fazendo, ou em que está participando? Por outro lado, atendo-me apenas às regras atualmente em vigor no Brasil, a cidadania se concretiza quando o indivíduo tira seu título de eleitor. Defendo, por isso, que haja ampliação dessa visão jurídica, até chegarmos, quem sabe, à visão “ideal” que apresentei acima. Um abraço!