“No Brasil, a única prisão que político vê é a prisão de ventre.”
A frase acima foi vista por mim hoje à tarde no twitter. Ela representa algo que está disseminado junto ao povo brasileiro: a descrença na capacidade da elite política em alterar alguma coisa em nosso país. Como publicado em postagem abaixo, o povo brasileiro tem a ideia de que teremos “mais do mesmo”, e que não importa quem sejam os governantes – nada mudará.
A década de 1980, chamada de “década perdida” em termos econômicos, poderia ser vista como a “década da esperança” em termos políticos. Tal década se iniciou com um novo presidente militar, mas a ditadura brasileira já não esbanjava a “pujança” anteriormente vista – especialmente em termos econômicos, com o “milagre brasileiro”. A ditadura brasileira estava já cambaleante e, ainda que tenha sobrevivido até 1985, o fez tendo em vista a necessária transição a um regime pelo menos formalmente democrático.
À época, o povo brasileiro tinha expectativas na esfera política que foram, em princípio, atingidas – com o próprio processo de transição – mas que, em seguida, caiu em descrédito devido ao atrelamento entre política e economia: os diversos planos econômicos da segunda metade da década de 1980 não conseguiram solucionar o problema da inflação, cada vez mais rampante.
Surgiu, então, o “caçador de marajás”, aquele salvador que, finalmente, colocaria “ordem na casa”. O resultado é conhecido por todos: impeachment e, mais uma vez, um vice assumiu – vice este que, por si só, assim como seus antecessores, não conseguiu solucionar o principal problema brasileiro. A solução só viria em 1994, com a criação e implantação do Plano Real.
Iniciou-se, ali, o verdadeiro processo de reforma do estado brasileiro. Não nos cabe aqui analisar se tal processo – simbolizado pelas diversas privatizações – foi bom ou ruim: o que importa é que tais acontecimentos contribuíram com a almejada estabilização da economia brasileira, bem como moldaram o estado brasileiro de forma que se criou um padrão de atuação política e econômica que é seguido até hoje, e é inegável que tal padrão é bom – ao menos no sentido de que ele evita a inflação como tínhamos anteriormente.
Contudo, a criação de tal padrão levou à convergência dos diversos polos políticos brasileiros para o centro, de maneira que hoje seja impossível definir claramente quais partidos são de direita e quais partidos são de esquerda – daí a ideia de que as eleições desse ano apenas trarão “mais do mesmo”. Da mesma forma, como seriam todos “farinha do mesmo saco”, as punições se tornam mais difíceis de serem concretizadas – primeiro porque ninguém quer “ferir” seus pares, e segundo porque como todos estão, mais ou menos, no mesmo barco, a punição a um pode levar à punição de outro, respingando a sujeira em políticos que, obviamente, não querem “perder a boquinha” junto ao estado brasileiro.
Exemplo disso é a novela do mensalão aqui no Distrito Federal. Hoje à tarde me deparei com a notícia de que a OAB pediu à Procuradoria-Geral da República o afastamento de Arruda do cargo de governador, ou até mesmo sua prisão preventiva, pois sua permanência no cargo levaria à manipulação das informações acerca do esquema de corrupção, à obstrução das investigações e até mesmo à cooptação de testemunhas – fatos que eu, pessoalmente, concordo plenamente. Ao ler a notícia, me peguei pensando: “que ótimo, estão fazendo alguma coisa”. Mas depois me lembrei: o poder Executivo está envolvido nas denúncias; o poder Legislativo está envolvido nas denúncias; o poder Judiciário está envolvido nas denúncias; e aí vem aquela famosa frase do seriado: “E agora, quem poderá nos defender?”
Ok. Suponhamos que a investigação avance e que Arruda seja removido do cargo. Entrará alguém em seu lugar para terminar o mandato. Quem? O vice, que talvez também esteja envolvido. Ou alguém indicado pela Câmara Distrital, que também está enlameada. Ou alguém… Oh céus, quem não está envolvido?
E aí vem o problema maior: mesmo que entre alguém idôneo, será que isto não aconteceria novamente? Porque “será mais do mesmo”… E o problema está em todos nós: eleitores, que se vendem; cidadãos, que não questionam nem acompanham seus eleitos; políticos, que se dizem idôneos, mas que não mudam a estrutura do sistema político brasileiro. Como mudar? Cenas do próximo capítulo… Enquanto isso, deixemos nossos políticos com a única prisão que eles conhecem.