Depois do vendaval

Pode se assim? A elite das elites de que Lula tanto fala caiu no arrastão da Lava-Jato, com companheiros empresários, partidos e políticos unidos para saquear a Petrobras

Em Lisboa, estou me sentindo como se estivesse no Brasil: o ex-primeiro-ministro socialista José Sócrates foi preso no aeroporto, chegando de Paris, pilhado com pelo menos 20 milhões de euros de negociatas depositados num banco suíço. Nunca na história desse país, ó pá. E logo um socialista, que sempre se alardeou homem de vida e posses modestas, lutando pelos pobres e oprimidos.

Depois de deixar o poder, com o governo socialista derrubado pela crise econômica que quebrou Portugal, Sócrates estava estudando Filosofia em Paris e morando num belo apartamento de milhões de euros, aparentemente alugado, mas na verdade de um testa de ferro, também preso, além do seu motorista Pedro Perna, que levava o dinheiro vivo para Paris periodicamente. Ah, os motoristas e secretárias, o que seria dos corruptos sem eles?

A diferença é que aqui ninguém alega que era para o partido, a causa popular ou a luta política. Nem levanta punhos. Em Portugal, como na Inglaterra ou na Itália, roubos e falcatruas para favorecer um partido ou candidato não são atenuante, mas agravante, porque o objetivo é fraudar o processo eleitoral e a vontade popular, um crime que não atinge só uma pessoa física ou jurídica, mas toda a sociedade e a democracia.

Falando em Itália, quem acompanhou de perto a devastação provocada pela Operação Mãos Limpas, que investigou 872 empresários, 1.978 administradores e 438 parlamentares, entre eles quatro ex-primeiros-ministros, e levou centenas à prisão, não tem dúvidas: com o fim dos partidos tradicionais, mas sem uma reforma política, criou-se o vácuo em que apareceu Berlusconi, que ficou 20 anos no poder. E deixou a Itália pior do que antes da Mãos Limpas, com a segunda geração de partidos mais suja e execrada do que a primeira.

A elite das elites de que Lula tanto fala caiu no arrastão da Lava-Jato, com amigos e companheiros empresários, administradores, partidos e políticos unidos para saquear a Petrobras. Espera-se que todos sejam condenados e punidos, mas depois do vendaval é que mora o maior perigo: sem uma profunda reforma política, um Berlusconi tropical.

Fonte: Blog do Noblat.

4 comentários em “Depois do vendaval”

  1. Professor bom dia.
    Acho muita inocencia, esse negocio de puniçao aqui no Brasil,pois o legislativo e judiciario estao enlameados tambem, veja o caso do Dr.Protogenes, o feitiço virou contra o feiticeiro,O mais intrigante, e que a midia nada pronuncia sobre o caso.Todos envolvidos e nenhum punido, as leis estao ai, mas nao surte efeito nenhum, o Brasil pode dar as maos aos Portugueses, ja se foram morro abaixo…

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  2. Muito bom seu artigo. Não é possível traçar rumos sem a referência do panorama mundial. Mas não pude deixar de dar algumas risadas ao “constatar” que, de fato, dinheiro tem Perna..

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